sábado, 4 de dezembro de 2010

Quase 80

Eles são do tempo em que se dava corda em relógio de pulso.
Do tempo em que quase não havia carros, não existia tv e as novelas de rádio eram o maior sucesso.
Do tempo em que as pessoas se respeitavam e não tinham pressa.
Do tempo em que o tempo passava mais devagar.

Um é bem conhecido no país inteiro: Leo Batista, apresentador de tv, 60 anos de profissão, para pra conversar como se me conhecesse há séculos. Sempre com seu casaquinho, voz mansa e firme, carinha simpática. Um fofo. Me conta uma piada, reclama da bagunça do Rio, revela que se sentiu desrespeitado numa festa onde apresentou o convite mas teve que ouvir da mocinha da porta "o nome do senhor não consta da nossa lista, o senhor teria outro nome?" Compartilha comigo da ideia de que o que estraga este país de natureza exuberante é seu povo, mal-educado, ladrão, porco, desonesto, com raras exceções, claro. Ele tem quase 80, mas a cabeça jovem e a lucidez de um garoto. De um jeitinho meigo, diz que nunca está cansado, "vocês é que vivem cansados" e termina o papo contando que não gosta de palavras que lembrem coisas antigas. "Museu, baú, estão doidos pra me pegar. Passo longe deles."

A outra personagem desta história, não conheço de nome. De bengala na mão por causa de um tombo que sofreu, a senhorinha, de pele bem menos enrugada que o esperado pra sua idade, dispara, com a doçura de quem não se importa em zombar de sua própria condição: "sabe quando você vê que a pessoa tem mais de 80? quando ela diz 'vou tirar retrato', 'me empresta um rouge', ou 'acabou meu laquê'. Hoje em dia se diz foto, blush, fixador."

Hoje em dia se diz muita besteira. Se fala muito e se ouve pouco, e eu me incluo nessa lista. Os jovens não tem mais tempo de escutar os mais velhos. Quanto mais novo, mais tem pressa não sei de quê. Quando   perdemos nossos velhos queridos -avós, avôs, tios- é que sentimos pena de não termos aproveitado toda a sabedoria que eles acumularam. "Como era mesmo aquela história que o vovô contava?"

O tempo passa depressa. Portanto, sinta-se sortudo se alguém com quase 80 estiver disposto a gastar o tempo dele, este sim, curto, jogando conversa fora com você.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Atos e Consequências

Uma ligação. Um passo. Você atravessou a rua e deu de cara com o amor da sua vida. Você atendeu aquele telefonema e seu destino mudou pra sempre. Coincidência? Acaso? Um filme estrelado pela
Gwyneth Paltrow, em 1998, mostra como seria a vida da personagem se ela tivesse chegado alguns segundos antes à estação de metrô e não tivesse perdido o trem. "De caso com o acaso" é uma comédia romântica que nos faz pensar naquela velha perguntinha: "e se...?" E se você tivesse aberto a porta do trem  e entrado naquele vagão em vez de perdê-lo? E se você tivesse chegado em casa dez minutos antes e visse seu marido te traindo?

Você já parou pra pensar quantas coisas na sua vida seriam diferentes se você não tivesse tomado alguma decisão? Se você nunca tivesse ido àquela festa, não teria conhecido o cara com quem você se casou. Se  nunca tivesse feito aquela prova, não teria virado estagiária da empresa onde hoje você é chefe. Se nunca tivesse ido naquela viagem, não teria o conhecimento que precisava para ser aprovada naquela entrevista.

Destino? Deus? Sorte? Estava escrito?

Você pode não acreditar em nada disso. Mas o fato é que a vida oferece oportunidades infinitas e cabe a nós escolhermos por qual lado da calçada andar, em quais números da loteria apostar. Na maioria das vezes, não nos damos conta de como um ato banal pode mudar nossas vidas. Porque, na maioria das vezes, atos banais não mudam mesmo nosso futuro. Mas, quando menos esperamos, a vida nos surpreende.

Quantas vezes não saímos de casa com preguiça e a noitada da qual não esperávamos nada acaba sendo a melhor do ano? Quantas vezes não conhecemos pessoas que vão virar grandes amigos por meios completamente inusitados? Como jornalista esportiva, já vi vários casos de medalhistas que começaram a praticar algum esporte porque, um dia, estavam sentados na frente da tv assistindo a um programa que os fez pensar: "E SE eu começasse a jogar isso?" E pronto: a vida estava mudada pra sempre.

Talvez aquele sinal tenha fechado pra que você não sofresse um acidente 100 metros adiante. Ou você até tenha sofrido um acidente pra se casar com o médico que te atendeu no hospital. Você pode ter perdido aquele importante jantar de negócios por causa do trânsito, mas também porque acabaria tendo uma indigestão se tivesse ido. Você não precisa saber reconhecer que atitude tomada desenhou sua vida como ela é hoje. Mas que viver com a sensação de que temos as rédeas das nossas vidas é muito mais divertido, ah, isso é.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Pedido de Casamento

"Amiga, estou morando sozinha. Me pedi em casamento e aceitei!"
A frase não é minha, mas achei impossível ouvi-la sem escrever sobre o que ela representa. Também moro sozinha e tenho exatamente esta sensação. Como é bom viver numa época em que as mulheres não precisam necessariamente casar para ter sua própria casa. Aliás, este é um conselho que dou a todas: viva sozinha primeiro, conheça-se melhor, para depois pensar em dividir espaço com outro. Morar sozinha é ter uma liberdade incondicional. É poder ser bagunceira ou arrumadinha, sem que isso perturbe ninguém. É poder escolher entre viver num lugar careta ou transado, clássico ou moderno, de paredes brancas ou coloridas, e saber que essa decisão é só sua. Ter nossa própria casa é poder escolher o que vai passar na tv, não se preocupar com o volume do som, dar quantas festas por ano quiser, levar quem a gente bem entender pra passar a noite.

Conheço muita gente que nunca passou por essa experiência e, sinceramente, acho que estão perdendo uma parte essencial da vida. Morar sozinha é conquistar sua independência. É como viajar sozinha: você se sente mais responsável, tem obrigação de ser adulta. E como é bom poder confiar em si própria. Saber que você vai conseguir resolver aquele vazamento do banheiro, vai poder decidir se quer aquele móvel aqui ou ali, se aquela decoração combina ou não. Claro que quem monta uma casa sempre tem a ajuda de algum parente ou amigo que já passou por isso. Mas a palavra final é nossa, só nossa. É como entrar numa discussão tendo razão: a gente tem certeza de que vai sair ganhando.



  

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Pela Metade

Outro dia li um texto da Danuza Leão que gostaria de ter escrito. Começava assim:

"A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade.

A gente sai pra jantar, mas come pouco.  Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.

Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil.

Adora tomar um banho demorado,  mas se contém para não desperdiçar os recursos do planeta.

Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.

Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar.

E por aí vai."

Tudo bem, não dá pra passar pela vida fazendo só o que gosta. Espera aí, será mesmo que não dá? Minha avó já dizia que tudo que é exagerado faz mal. Mas e se aprendermos a dosar o que gostamos e injetarmos aos poucos esses prazeres nas nossas vidas ? Que tal transformar uma obrigação chata num dever não tão insuportável? É como fazer dieta, a tal lei da compensação. Come um brigadeiro hoje, fica o resto da semana na salada de frutas, pra compensar o estrago. Malha pesado hoje, se afunda no sofá amanhã. Simples assim, sem neura. Eu tive uma amiga que deixava de viajar de férias com a família porque no hotel não tinha academia. Morreu nova, de uma crise de asma, com 30 anos. Um pouco de felicidade, de fazer o que se gosta, me parece uma questão de sobrevivência. Já temos responsabilidades demais, já cumprimos ordens demais, já temos que aturar chatos demais.

Quando der vontade de fazer tudo errado, de ser ridícula, inadequada, incoerente, e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a seu respeito, simplesmente...seja. Afinal, quem paga suas contas é você mesma.

"Recuse prazeres incompletos e meias porções", aconselha Danuza.

Minha avó estava errada: felicidade exagerada não faz mal.

sábado, 25 de setembro de 2010

Quantos anos você tem?

Parece uma pergunta simples - só parece. Acabo de ler o best-seller "Comer Rezar Amar", que mês que vem chega aos cinemas com a adorável Julia Roberts no papel da escritora Liz Gilbert, e gostei de uma passagem em que ela fala sobre isso. Liz vai para Bali encontrar um xamã, como parte de sua viagem de auto-conhecimento, e fica curiosa pra saber a idade daquele senhor tão experiente. Jamais conseguiu. Não só porque o velho sábio não tem um registro de nascimento, mas porque ele mede sua idade de um jeito peculiar. Quando acorda bem disposto, alegre, confiante, acredita ter uns 65. Na manhã seguinte, se estiver cansado, com dores, se seu humor já não estiver tão bom, se sente com 105.

O que diz a sua certidão de nascimento? Uma data? Ou será que nas entrelinhas não está escrito "30 anos, mas com corpinho de 22, saudável, bem resolvida, emocionalmente equilibrada, pronta pra ser feliz"?
Ou então: "25 anos, cansada da vida, irritada com o mundo, ranzinza, como se tivesse 52"? Qual idade você SENTE que tem?

Sua pele pode não ser mais de bebê. Seu rosto pode ter uma marquinha de expressão, seus fios de cabelo podem ter começado a te dar trabalho. Mas é o seu estado de espírito que demonstra sua verdadeira idade. Aposto que você conhece uma "coroa" de 45 anos que você jurava que tinha pouco mais de 30. Ninguém quer parecer mais velho. Tá bom, quando a gente tem 15, não vê a hora de chegar aos 18. Mas, passada essa fase adolescente, todas nós daríamos tudo pra não envelhecer. Que tal então pararmos pra pensar no que nos faz SENTIR mais velhas e riscar de vez estes hábitos da nossa vida? De que adianta ter apenas 28 mas andar por aí como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros? Provavelmente estará escrito "40 anos" na sua testa. Cada um tem sua fórmula para viver bem, sua maneira de ser feliz. Descubra qual é a sua e se agarre nela. É bem mais econômico do que fazer uma plástica e vai te render muito mais elogios.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A Pessoa Errada

Já aconteceu com todos nós: gostar da pessoa errada. O mundo tentando abrir seus olhos, todos os seus amigos questionando aquele relacionamento, sua familia sendo contra, e você ali, dominada pela paixão, tirando forças não sei de onde pra continuar, pra não fraquejar. Meses, anos a fio, apostando que você está certa, tentando salvar aquele namoro, aquele casamento, acreditando que as coisas vão melhorar, que ele vai mudar, que é apenas uma má fase. E quanto tempo perdido. Noites em claro discutindo a relação, horas desperdiçadas argumentando contra o que você já nem sabe mais, palavras inúteis, frases que já não tem a menor importância, sentimentos jogados no vazio, pedidos de desculpas, lágrimas, um turbilhão de emoções que quase sempre terminaram do mesmo jeito que tudo começou.


Se isso já aconteceu com você, e eu aposto que sim, abra os olhos. Acredite no chavão que diz que a vida é muito curta pra perder tempo sendo infeliz por escolha própria. Aceite os conselhos das suas amigas que já passaram por isso e aprenda com os erros delas. Saiba que tem gente por aí que realmente te merece, que vai saber te dar valor, que está escondida em algum canto da sua vida esperando o momento certo de aparecer. Confie no poder mágico dos encontros, tenha fé que, em algum momento, quando você menos esperar, aquele cara que está reservado pra você vai transformar sua vida, vai acabar com seu sofrimento, vai te abrir novos horizontes, vai finalmente te fazer feliz por inteiro. E, quando seu grande amor aparecer -este cara cheio de qualidades, que sabe te ouvir e te admira, que te ama com gestos e não apenas com palavras vazias, este, e não aquele de quem ninguém gostava, aquele que não combinava nem um pouco com você- me faça um favor: escute o poeta daquela música triste e o reconheça.  

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sortudos

É só um prêmio milionário ser sorteado na Mega Sena que nossa reação imediata é dizer: "que sorte!" Ainda mais agora, com a notícia nos jornais de uma pesquisa que prova que dinheiro traz, sim, felicidade, os novos milionários estão sendo, mais do que nunca, invejados pelo país inteiro. Afinal, quem não gostaria de estar no lugar desse sortudo? Se serve de consolo pra quem, como eu, apostou e não levou, aí vai uma dica. Olhe bem pra você e se pergunte: "eu já não sou uma pessoa de sorte?"

Sorte de ter nascido numa boa família, de gente honesta e carinhosa.
Sorte de ter uma mãe que cozinha bem e com amor, de ter avós vivos.
Sorte de ter amigos, de ter alguém em quem confiar seus segredos.
Sorte de ter uma cama quentinha e um travesseiro macio te esperando.
Sorte de morar perto da praia, num país onde é verão o ano inteiro.
Sorte de ter um irmão, de ter filhos que te amam.
Sorte de ter um bom emprego, de não ter medo de avião nem de barata.
Sorte de ser belo.
Sorte de ser sensível à arte, de gostar de livros, de ter oportunidade de ver um bom filme sempre que quiser.
Sorte de comer de tudo e não engordar, de não ter TPM, de ter nascido de olhos azuis ou verdes.
Sorte de ter ritmo e saber dançar, de ter a voz da Mariah Carey, de ter o charme de um galã de TV.
Sorte de saber reconhecer um momento especial e agradecer por ele.
Sorte de ter tido a sorte de encontrar seu par perfeito.
Sorte de não ser perfeito, e , por isso, não exigir que os outros sejam.

Olhe pra dentro. E descubra se você não é realmente uma pessoa de sorte.

domingo, 5 de setembro de 2010

Imagens e beijos

Qual imagem você escolheria para definir a sua vida? Que foto melhor simboliza o momento que você está vivendo agora?

Meu fotógrafo preferido, o francês Robert Doisneau, captou em 1950 uma imagem que ficou conhecida no mundo inteiro: "O beijo", ou "Le baiser de l'hôtel de ville" , no original, é o flagrante de um casal comum dando um beijo apaixonado numa movimentada rua de Paris. Simbolizava a força do amor jovem na cidade-luz no período do pós-guerra. A identidade do casal permaneceu um mistério durante décadas. Só em 1992, mais de quarenta anos depois de ter tirado a foto, quando virou alvo de um processo judicial movido por um casal que acreditava ser o personagem da imagem captada sem sua autorização, Doisneau revelou que aquela foto nunca fora uma feliz obra do acaso. O casal fotografado era, na verdade, formado por dois atores, que, a pedido dele, se beijaram. A explicação do artista é o que mais intriga, principalmente nós, brasileiros: "jamais ousaria fotografar um casal assim. Amantes se beijando na rua? provavelmente não era um casal legítimo."

Quem já visitou alguns países europeus e, principalmente, os Estados Unidos, entende logo esta visão de Doisneau. Lá, beijar em público é quase um acinte. Os americanos deram até um nome para o ato de demonstrar carinho na frente de qualquer um: P.D.A -  public display of affection. E são totalmente contra. Em casos extremos, chegam a gritar na rua: "get a room!", ou seja, "vá procurar um quarto pra fazer essas sem-vergonhices". Na França dos anos 50, então, um beijo como aquele só poderia envolver dois amantes, ou um casal "não-legítimo", para usar as palavras do artista.

É nessas horas que fico feliz de viver no século XXI e, principalmente, no Brasil. Ou vai me dizer que tem algo melhor do que ser surpreendida pelo seu namorado com um beijo daqueles, apaixonado, no meio da rua, sem qualquer explicação? Casais que estão juntos há muito tempo às vezes esquecem de que momentos como esse, de demonstração de amor espontâneo, de beijos ardentes sem motivo, valem mais que o automático "eu te amo" de todo dia. Nada de beijo na testa ou selinho de bom dia. Ser puxada pelo braço no meio da frase e levar um beijo de cinema, hum, afasta qualquer mau-humor, e desperta aquela sensação de que se é amada de verdade.

E se, voltando à pergunta do início, você precisar de uma imagem pra definir sua vida, seu momento, tomara que seja uma foto como a de Doisneau - mas de preferência de um beijo genuinamente verdadeiro.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A Vida Alheia

Você odeia seu chefe? Tem inveja daquela mulher do trabalho mais bonita e inteligente que você? Ou daquele cara que chegou depois, mas foi promovido na sua frente? Então comece a falar mal deles para o próximo e ganhe um amigo. Uma pesquisa revela que fofocar, principalmente, falar mal da vida dos outros, é uma boa maneira de se fazer amizades. Isso mesmo. Claro que não se trata de ficar amigo do objeto da fofoca... seria engraçado. Mas americanos da Universidade de Oklahoma descobriram que compartilhar opiniões negativas sobre alguém pode aproximar duas pessoas e ser até mais eficaz do que compartilhar elogios. O motivo ainda não está muito claro na cabeça dos pesquisadores. Mas eles acreditam que, como se considera socialmente inapropriado falar mal de outras pessoas, quando isso acontece é como se um laço afetivo se formasse. É o outro conhecendo um pouco mais sobre a verdadeira personalidade do fofoqueiro. Ou seja: contar uma fofoca faz a pessoa ser mais querida.


Falar da vida dos outros, pra muita gente, é quase um esporte. Há quem não consiga fugir do assunto. Quem é que não conhece aquela pessoa que se dá bem com todo mundo só pra poder saber da vida de todos e espalhar boatos? Costumo achar que quem se preocupa demais com a vida alheia é porque não tem uma vida tão interessante assim. Mas a fofoca está aí desde que o mundo é mundo, faz parte da sociedade. Calcula-se que dois terços do que as pessoas conversam é sobre quem está com quem, quem fez alguma coisa contra quem. Fofocas circulam pelo planeta desde os primórdios da civilização. A imperatriz russa Catarina, a Grande, lá no século XVIII, já era vítima dos fofoqueiros. Reza a lenda que ela morreu em circunstâncias estranhas na companhia de cavalos. Ninguém sabe quem espalhou esse boato, mas a verdade é que ela morreu de um ataque cardíaco, e nunca houve cavalo algum nesta história. Aliás, fofocar sobre celebridades – como a imperatriz foi naquela época- é uma das maneiras mais conhecidas de se ganhar dinheiro hoje em dia. Mas não vá achando que é só na revista que a vida alheia rende frutos. Fofoqueiros profissionais estão espalhados por aí e, se você não se der conta, daqui a pouco vão colocar a sua vida na primeira página dos jornais.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sobre as Notícias

Fala-se em terapia para presidiário. Mais do que isso, psicologia pra entender cabeça de pistoleiro – ou para que o pistoleiro entenda sua própria cabeça, o que já seria um avanço. Fala-se em rebelião de presos nas Minas Gerais, que, bem acomodados em celas onde sobram vagas, exigem telefone, ar-condicionado e tv a cabo- por que não? Tudo às nossas custas, claro. Noticiam sem parar a greve dos caminhoneiros autônomos. Centenas de máquinas bloqueando nosso direito de ir e vir. E o pior é que a incompetência do Ministro dos Transportes nos obriga a ficar parados, esperando que uma santa bomba de gás lacrimogêneo caia do céu e nos deixe ir pra casa. Fala-se da falta de estrutura de um país imenso que está para sempre escravo das duas rodas, do asfalto, do petróleo, dos caminhoneiros.

Fala-se também em violência doméstica. Nosso bom e velho amigo Flipper- o golfinho- quem diria!, estupra e maltrata fêmeas e mata filhotes como um jovem criminoso. Desafiando nossa imaginação, sempre tão acostumada a vê-los como dóceis e inteligentes criaturas. Mas não é só isso. Fala-se também de uma experiência única, que vai além das fronteiras espaciais: um homem sepultado na lua. Ele não conseguiu ser astronauta mas seus estudos ajudaram na corrida espacial. O satélite se curva para receber cinzas humanas.

Desbanca-se o mito do ovo. O vilão histórico muda de lado, e, tal qual Flipper, nos surpreende – só que vem pro lado bom da Força. Fala-se de uma discriminação absurda, verdadeira loucura de velho. Um condomínio no interior da Inglaterra que não aceita menores de 15 anos. Seja morador ou visitante! A justificativa é o barulho que essas criaturinhas podem fazer. O condomínio é reservado a aposentados, solteirões, casais – sem filhos, claro. Crianças estragariam a paz do lugar. Em tempo: cães e gatos são bem aceitos. Coisas de um mundo surrealista. Se contar, ninguém acredita.

sábado, 17 de julho de 2010

Memórias da Minha Infância

Lembro da amarelinha pulada entre as pedras do quintal. Da piscina Tone cercada por lírios amarelos onde minha irmã e eu inventávamos brincadeiras no verão: a preferida era correr dentro d’água a toda velocidade, até que se formasse uma gostosa marola, para, então, deitar e deixar o corpinho deslizar. Lembro do som incansável da cigarra. De aprender a andar de patins, aos 7 anos, e de bicicleta, tardiamente, aos 11. Lembro da cesta de basquete pendurada em cima da garagem, da mesa de ping-pong montada em frente a ela, do velocípede que chamava de motoca. Lembro do som alto tocando Stevie Wonder e Queen, músicas que não eram nem um pouco pra meninas da minha idade, mas que provavam que bom gosto, sim, é que não tem idade. Sol de Verão, Blitz, Mão Branca, Cabeça Dinossauro. Vinis na vitrola que tinha orgulho de ser minha, só minha. Lembro das coreografias ensaiadas exaustivamente com a irmã para apresentar aos pais de noite. Das olhadinhas pelo muro para o vizinho da minha idade, que nunca tinha falado comigo, mas que habitava os sonhos românticos de uma garota de 8 anos. Lembro de ir pra casa da vizinha pra comer jabuticaba, de pular o muro e roubar escondido pitanga direto do pé. Lembro das sopas coloridas no inverno, da fumacinha da panqueca de espinafre esfriando na janela antes de ser servida. Hm, delícia.


Lembro dos imensos jardins da Escola Viva, do teatrinho no último dia antes de mudar de colégio. Eu, que nem gostava da aula, acabei protagonista, na pele do camaleão que tinha que agradar a todos os bichos da floresta, mudando de cor a toda hora. “Quem não agrada a si mesmo, não pode agradar a ninguém”, moral da história. Lembro do campinho de terra batida, das festas juninas com lindos vestidos feitos à mão pela mãe, das fantasias de carnaval que brotavam da máquina de costura da avó. Vestida de odalisca ou de chuva, longos cachos no cabelo, sorriso doce no rosto. Lembro dos dias na casa da Praia do Saco, tendo que correr na areia pra me esquentar porque no chuveiro da casa não tinha água quente. Lembro da picada de abelha, das tardes com Monteiro Lobato na rede da varanda, da batata doce e do milho assados na fogueira feita na calçada, das lasanhas vegetarianas que eram a melhor coisa do mundo.

Lembro das férias sem fim na casa da avó querida, e agora meus olhos se enchem de lágrimas de saudade. Teatro infantil, patinação no gelo, brincadeiras no playground até dez da noite, verdade ou conseqüência, pêra, uva, maçã, salada mista. Lembro do jogo de queimado, de pique-esconde, de pular elástico, corda, das apresentações em que sempre ganhava o titulo de melhor cantora do grupo, com a ajuda providencial da acústica do play, que me transformava em Rosana, como uma deusa. Lembro de apertar a campainha de todos os andares e sair correndo, da velha maluca que ameaçava tacar uma panela de água quente na gente, da curiosidade nunca matada de saber como era a tal brincadeira do copo. Lembro de sentar em rodinha no chão pra jogar, jogar de tudo: Pega-Varetas, Playmobil, Banco Imobiliário, Genius, Detetive, Sessenta Segundos, Lince, Jogo da Vida, a vida é mesmo pura brincadeira quando se tem uma boa infância. Lembro de quando a felicidade estava num quarto escuro, com minhas amigas, brincando de “gato mia”. Das festinhas que a gente entrava de penetra, da criatividade em criar um grupo só nosso, com carteirinha de sócio e tudo, eu, a irmã e Paula, amizade eterna com o codinome “kids”. Lembro de ouvir os mais velhos dizerem que a infância é a melhor parte da vida, e agradeço a quem me proporcionou momentos inesquecíveis como estes.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Mal-educados

Deu no Jornal Nacional: os americanos estão mais mal-educados. Aquela história de abrir a porta do carro para as damas e senhoras, todo mundo sabe, já não existe mais há muito. Não é disso que estavam falando. Trata-se de um mínimo de educação que, por mais que a gente não perceba, deixou de fazer parte da rotina capitalista-escrava dos nossos dias. Escrava sim, do trabalho, da hora marcada, do próximo compromisso, da correria que impede o mundo de (voltar a) ser cordial.

É claro que não são só nossos vizinhos de cima que sofrem com o novo mal-estar desta civilização. Talvez eles só tenham constatado que os primeiros sintomas desta febre estão fazendo cada vez mais vítimas. Agressão, violência, armas em punho para eliminar quem nos contraria – este é o resultado da cultura má educação que assola o planeta. As crianças também reclamam, afinal, são elas as principais vitimas da falta de educação dos mais velhos. Dizia o menino na reportagem: os adultos só pensam neles. E aí entra mais um elemento desta louca fórmula que pode resultar em tragédia: o egoísmo. “Eu”, mais que o outro, tenho o direito de passar à frente dele e tomar seu lugar, posso bater sem ser atingido, posso gritar, xingar, empurrar, despejar palavrões insensatos, ser hostil, “eu posso”, “eu quero”, a cultura do egoísta fazendo miséria no mundo dos homens miseráveis de espírito.

Na era da máquina, da tecnologia digital, na era espacial onde a cada dia um limite é ultrapassado, falta-nos um cientista para inventar um só botão: que desligue pra sempre o mecanismo que nos faz estúpidos e mal-educados. Falta só descobrir qual é.

sábado, 10 de julho de 2010

A Idade Certa

O que você faria se descobrisse que está afim de um cara nove anos mais novo? Vivemos numa época em que situações como esta parecem fáceis de serem encaradas. Você provavelmente conhece alguém que passou por isso e até já deve ter dado opinião em um caso semelhante. A diferença é que se tratava de uma amiga e, agora, o papo é mais sério: aconteceu com você, que já não é nenhuma adolescente. Sim, porque quanto mais novos somos, menos a diferença de idade interfere numa relação. Mas você já passou dos 30, já viveu, já teve grandes amores, grandes desilusões, já conhece o mundo e sabe muito bem o que esperar das pessoas que vivem nele. E, por ter toda esta experiência acumulada, sabe também que não será fácil encarar seus amigos, sua família, com um cara... nove anos mais jovem! Ainda que ele tenha boas idéias, atitudes adultas, inteligência suficiente pra manter uma conversa civilizada e uma maturidade de dar inveja a muita gente, na hora H, na real mesmo, ele é só um garoto... de 23. Um menino, não um homem.

Mas afinal, o que ele tem que você não encontra nos caras da sua idade? Por que esse menino te atraiu de uma maneira que nenhum marmanjo conseguiu, pelo menos não nos últimos... quinze meses? Você vai começar dizendo que ele te faz se sentir mais nova. Que faz o estilo romântico, sem pressa de te levar logo pra cama porque sabe que tem a vida inteira pela frente. Que ele ouve você em vez de ficar horas falando só dele. Que presta atenção nos seus desejos e é capaz de saber certinho o que você quer de Natal. Que tem um jeito doce de quem ainda não sofreu na vida. Que a memória dele é tão boa que repara que você cortou o cabelo e sabe o vestido que você usou na festa de uma amiga no mês passado. Que o beijo suave dentro do carro, com o vidro quase embaçando, meio às escondidas, faz você se sentir de novo com quinze anos de idade. Que ele dança com um charme que você nunca tinha visto antes. Que ele topa qualquer coisa que você queira fazer e, ao mesmo tempo, não fica esperando que você decida tudo, ao contrário, toma a atitude de te convidar pros programas mais agradáveis. Que ele tem uma energia única, capaz de estudar, trabalhar e ainda ter fôlego pra te chamar pra sair quase todas as noites. A energia que sobra num cara de 23 certamente vai faltar num de 40.

As rugas que ele ainda não tem provavelmente vão fazer você esquecer as suas. A juventude é uma dádiva irremediável. O fato é que, se ele é tudo isso mesmo e você não está apenas fantasiando, esqueça a carteira de identidade dele, esconda sua certidão de nascimento e seja feliz. A vida não é feita de números, e a convenção de que os homens tem que ser mais velhos, ou pelo menos da mesma idade das mulheres, é coisa do século retrasado. Motivo suficiente para ficar com ele, você já tem. E além do mais, não há mal nenhum em ser chamada de “tia” de vez em quando.

sábado, 3 de julho de 2010

A Sua Seleção

É tempo de pensar em seleção. Mas não só nas de futebol, que vem decepcionando fãs mundo afora. Que tal pensar na seleção da sua vida? Quem você convocou durante esses anos todos pra fazer parte dela? Quantos craques você deixou de fora por motivos que até hoje nem você mesmo entende? A quem foi dada a oportunidade de balançar seu coração, de compartilhar com você os momentos mais importantes? Quem foi convocado como titular dos seus pensamentos e acabou decepcionando antes do apito final? Em quem você depositou esperanças, confiou cegamente, pra ser surpreendida com um cartão vermelho aos 45 do segundo tempo? Quantas vezes você escalou amigos que não corresponderam, namorados que te fizeram sentir derrotada e cansada de tanto correr sem chegar a lugar algum? Nunca é tarde pra colocar a mão na consciência e, tal como o Dunga deveria fazer, se perguntar: onde foi que eu errei?


É muito mais fácil não saber perder e jogar a culpa no cara que era um galinha e não te dava valor, no outro que nunca prestou atenção em você ou dizer que a vida nunca te deu a chance de ser feliz como você merecia. Mas até quando? Você pode ter mais quatro anos pra sonhar com um titulo de campeão, mas talvez seja tempo demais pra perder com escolhas erradas. Assim como no futebol, acertar não é fácil. Muitas vezes deixamos de escolher quem parece melhor aos olhos de todos e optamos por outro que é pura ilusão. Afinal, qual o estilo de jogo que você quer pra sua vida? Cadenciado, livre, aberto, ou enlouquecido, pressionado, tenso?

Sair vitoriosa sempre é questão de pura sorte. É preciso ter muita frieza para prever o resultado final antes de fazermos nossas escolhas. Agir por impulso é humano, inevitável. Burrice é saber que aqueles onze em campo nunca vão conseguir transformar o futebol em vitória e, cabeça dura, continuar apostando neles sem dar ouvidos a mais ninguém. Duro é ter nas mãos a opção do caminho certo mas ser teimosa e insistir no erro. Se, no esporte mais amado do mundo, sempre teremos mais quatro anos pra tentar outra vez, na vida não há segunda chance: se você desperdiçar um gol feito pode se arrepender pra sempre.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Prazeres da Vida

Prazer é tomar um bom vinho e comer doce de leite.

Prazer é viajar e conhecer outras pessoas, outras ruas de outras cidades, outros cheiros, outras florestas, outras praias.
É sentar e ver as palavras fluírem até concluir, satisfeita: hoje escrevi alguma coisa e me saí bem.

É poder dar um beijo de boa noite em quem se ama pessoalmente, e não pelo telefone.

É dar uma boa notícia para alguém que realmente importa.

Prazer é poder ver seu amor abrindo aquele presente que você comprou com tanto carinho, pensando nele.

Prazer é ser feliz com a rotina, acordando, trabalhando no que gosta, vendo um bom filme, indo dormir cedo.

Prazer é ouvir uma boa música, descobrir uma banda nova sensacional que pouca gente conhece, ouvir som alto.

Prazer é ler um bom livro, daqueles que te fazem ficar com um sorrisinho no canto da boca.

É saber que você é amada. Que em algum lugar do mundo alguém especial está pensando em você.

É pegar aquele velho álbum de fotos e ver como a vida foi generosa contigo.

Prazer é dar gargalhadas com suas melhores amigas. É poder compartilhar os momentos mais importantes da vida delas.

Prazer é ter mãe presente, ter irmãos que se ama, ver seus filhos crescerem como uma prova de como você os educou bem.

Prazer é ver um bom filme de Woody Allen. É ter a sensação de que aquela comédia romântica foi um pouquinho inspirada na sua vida.

É ler uma mensagem que ele te mandou dizendo que está com saudades e que não vê a hora de te encontrar e te encher de beijos.

Prazer a gente sente com os ouvidos, com os olhos, o olfato, o paladar, o tato – ah,o tato.

Prazer a gente sente com o corpo, a alma e o coração.

Prazer é viver com aquela sensação boa de que se ama, de que o coração está preenchido e satisfeito.

Prazer é estar feliz, em qualquer lugar.

sábado, 26 de junho de 2010

Sem Graça

A vida perde 100% da graça sem música. Metade da graça sem álcool. 40% da graça sem chocolate.

A vida perde a graça quando não se tem amigos pra contar aquele segredo que ninguém mais pode saber. Quando não se tem uma lua amarela e enorme pra admirar, nem um sol quentinho pra nos aquecer num dia frio de inverno.

A vida perde a graça quando não choramos mais com uma história de amor, quando não nos emocionamos mais com nossos ídolos batendo recordes, quando não gargalhamos à toa, como quando éramos pequenos. A vida perde toda a graça sem novos desafios, sem novas amizades, com velhos preconceitos.

Uma vida sem graça é uma vida sem novidades, sem banho de mar, sem ninguém pra gostar. Sem lugares pra conhecer, sem gritos de gol, sem paixões, sem desilusões. Uma vida sem graça é uma vida sem arte, sem palavras sinceras, sem cumplicidade, sem bons conselhos.

A vida perde a graça sem o toque da pessoa que a gente ama, sem as palavras de apoio de quem a gente admira, sem o carinho da nossa mãe. A vida perde a graça sem porres homéricos pra se arrepender, sem loucuras pra fazer, sem aventuras pra viver. A vida perde a graça quando não se sabe aproveitar as coisas simples, como uma brisa num dia frenético de verão, o barulho das folhas balançando, o som das ondas batendo na praia.

Perde a graça quando a gente não olha pra ela com a beleza que ela merece.

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terça-feira, 15 de junho de 2010

Mudar é preciso

Todo mundo tem um pouco de medo de mudanças.


Medo de que o novo chefe não goste do seu trabalho, medo de não saber se vai se adaptar ao novo apartamento, aos novos vizinhos, medo de não corresponder às expectativas no novo cargo, medo de trocar o carro que você ama por aquele modelo lindo que você nunca dirigiu.

É natural. O ser humano tem a mania de se acomodar com as situações em que vive. Mas às vezes a gente precisa de uma mudança radical. Transformar nossa vida numa outra coisa, totalmente diferente.

Todos os dias ouvimos histórias assim: tenho medo de me separar do meu marido. Medo de deixar meu namorado de cinco anos e meio por um cara novo que eu estou conhecendo. Medo de largar meu emprego e sair pelo mundo. Medo de cortar o cabelo curtinho. Medo de trocar o curso de medicina pelo de culinária. Medo do que os outros irão pensar se eu cancelar meu noivado porque não o amo mais. Medo.

Sei que tomar decisões importantes, ir da água pro vinho, é mesmo difícil. Mas, quase sempre, é necessário.
O que seria da humanidade se ninguém tivesse coragem de tentar algo novo? O que será da sua vida se você não largar a carreira que odeia, se não se declarar pra pessoa que sempre amou escondido, se não experimentar algo pela primeira vez? A monotonia da vida é a gente que faz.

Você pode passar o resto dos seus dias sentado aí, sem nunca ter realizado o sonho de virar estilista. Sem nunca ter experimentado. Sem nunca ter dado uma guinada. Você pode se afundar no sofá e ficar vendo na tv todos aqueles lugares lindos que você nunca teve coragem de conhecer.

Mas você também pode dar adeus ao patrão grosseiro, ao carro velho, aos amigos que não te acrescentam nada, ao emprego que te sufoca, ao penteado que não tem mais nada a ver com quem você é. A receita para ser feliz é ter coragem para ser feliz. Seja aos 30, aos 40 ou aos 60 anos, mudar é preciso. Antes que seja tarde.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

À Espera da Vida

A vida é uma eterna espera. Vivemos esperando que tudo de bom aconteça, que o emprego novo dê resultado, que a escolha tenha sido a certa. Esperamos que aquela amiga apareça pra jantar, um telefonema de quem está longe, um elogio do chefe, ganhar na mega sena, que o resfriado sare logo, que o inverno não seja tão frio nem o verão tão quente, que nossa mãe não brigue porque a gente chegou tarde, um aumento de salário, esperamos que nossas rugas demorem a aparecer e que nosso príncipe encantado nos reconheça no meio da enfumaçada pista de dança daquela boate lotada.

Esperamos ter paz, saúde, amor e dinheiro no bolso no Ano Novo, esperamos que o filme seja bom, esperamos ter dinheiro pra trocar de carro, esperamos nos sair bem naquela entrevista, esperamos que nossos cabelos não fiquem brancos e que, ao contrário, alguém nos diga como estamos jovens e magras. Esperamos não sermos assaltadas, que o trânsito esteja bom na viagem de feriadão, que a receita nova que fizemos esteja gostosa, que alguém que a gente ama nos corresponda com o mesmo sentimento.

Esperar por algo que está pra acontecer é sempre mais angustiante que esperar uma coisa que sabemos que pode se realizar no futuro. Esperar pra fazer xixi na fila enorme do banheiro de um show de rock é infinitamente pior do que esperar que mês que vem faça sol, ou que a empregada apareça no fim-de-semana. Parece que os minutos, os segundos, demoram mais a passar quanto mais perto o fato está de acontecer. Esperar a hora marcada pro primeiro encontro a dois é quase sufocante. Esperar o sinal abrir, nem tanto.

Vivemos numa infinita lista de espera, seja para entrar no restaurante recém-inaugurado ou para mudarmos de emprego. Parece sempre que alguém chegou na nossa frente e nunca se sabe quando virá a nossa vez. Se a espera é longa, o mais difícil é manter a calma e a persistência. Eu, por exemplo, detesto esperar. Não sou exatamente uma pessoa que insiste nas coisas. Quando algo parece que não vai rolar, desisto facilmente. Se isso é bom ou ruim, tenho minhas dúvidas. Mas também não quero que esperem por mim, nem muito menos que esperem algo de mim.

Mas, como todo mundo, espero que todos os meus sonhos se realizem, ou, ao menos, que eu seja feliz todos os dias.

E, pra isso, não dá pra ficar sentada esperando.

domingo, 6 de junho de 2010

Adorar x Amar

Ele dá todas as demonstrações de que te ama. Liga quatro vezes por dia, faz tudo o que você pede, se preocupa se você chegou bem em casa, troca os pneus do seu carro, vê o filme que você escolheu, compra o cd com a sua música preferida e põe pra tocar de surpresa, deixa você dormir um pouco mais e prepara o café-da-manhã, viaja no roteiro que você escolher, entende quando você está cansada e oferece uma massagem relaxante, te busca no meio da madrugada pra dormir com ele, te pega no colo e leva pra cama, adora fazer sexo com você, traz seus bombons favoritos da viagem ao sul do país.

Mas nunca disse “eu te amo”. As três palavrinhas mágicas que toda mulher quer ouvir. E o pior: você já declarou seu amor pra ele. Primeiro escreveu, depois disse com todas as letras, e ele, nada. Nem um insosso “eu também”. É o suficiente pra você desconfiar de toda aquela paixão. Pra você não se sentir mais amada. Pra você suspeitar quando ele não atende o telefone e não responde seus torpedos. Ele diz que te adora. Escreve que te adora, com menos freqüência do que você gostaria. Mas a distância entre adorar e amar é grande, você sabe.

Adoramos sorvete de flocos, jantar à luz de velas, ficar de folga, sair de sapato baixo.

Amamos coisas bem mais importantes: nosso bicho de estimação, aquele filme que nos fez chorar, a música que tocava quando nos beijamos pela primeira vez, viajar pelo mundo. Pessoas adoram e amam coisas diferentes e todas sabem muito bem a diferença entre esses dois verbos. O limite entre adorar e amar pode ser tênue, e ouvir um “eu te adoro” não é tão ruim assim, pelo contrário. Mas nós, mulheres, não nos contentamos com nada menos que um “eu te amo”. Queremos que nos amem 100% e não pela metade. Adorar é bom. Mas infelizes daqueles que não conseguem amar.

Perfeitos

Alguém certamente já escreveu sobre ela: a perfeição. Que mal tem em querer um homem que tenha todas as qualidades que você busca?

O que é que custa ser inteligente, sensível, bonito, bom de cama, sarado, sexy, espirituoso, romântico, sonhador, engraçado, simpático, trabalhador, rico, hetero e ... disponível? Pois eu quero alguém que me preencha. Que me acrescente, me entenda, me ame, me perdoe, me seduza, me encante, me surpreenda, me envolva, me respeite, me ...

Alguém que esconda bilhetes na minha roupa, que me encha de elogios sinceros, que me observe enquanto eu durmo, que sorria quando eu apareça, que me beije como se eu fosse a primeira, que sinta minha falta e fale que sente, que recite frases românticas de amor eterno, que me ligue quando ouvir minha música predileta pra dizer que está pensando em mim, que me mande flores, cartões, declarações, que me pegue no colo e diga que eu sou levinha, que pare o carro perto da marquise quando estiver chovendo, que me beije no sinal fechado, que acorde e me dê bom dia, que de vez em quando se ofereça para preparar meu café da manhã, que faça uma surpresa e apareça no meio do dia, que me incentive no trabalho, que goste de ir ao cinema, que aprecie meu vinho preferido, que goste dos drinks que eu preparo, que viaje comigo pra onde nossa imaginação desejar. Ah, sim, e que eu ame.

Mas por que buscamos um par perfeito? Talvez porque seja mais fácil namorar um príncipe encantado, não dá trabalho. Pena que a metade da laranja quase sempre esteja escondida dentro de um saco com outras milhões de laranjas. E não há nada mais chato do que procurar uma coisa e nunca achar. É como perder a tarracha daquele brinco preferido no chão da boate. Nem pense em querer encontrar. E quando a gente vê aquele brilho reluzindo entre tantos pés dançantes, quando a gente pensa que tirou a sorte grande e se abaixa pra pegá-la, alguém passa e chuta sua esperança pra longe dali.

Se a perfeição existe, se alguém a conhece, me apresente. Sou a primeira desta fila que não pára de crescer. E prometo retribuir: é satisfação garantida ou seu dinheiro de volta.

sábado, 5 de junho de 2010

A Noiva do Homem-Aranha

Foi como todo final feliz que se preze: a mocinha, que antes relutava em aceitar o amor do herói, acaba deixando o noivo “certinho”no altar pra viver seu grande romance. Foi assim com Mary Jane e Peter Parker. Ela, uma atriz às voltas com uma peça de sucesso num grande teatro; ele, fotógrafo freelancer para um tablóide sensacionalista e, nas horas vagas, super-herói. O final do filme “Homem-Aranha 2” nos dá um prazer que nunca tivemos em outras obras do gênero: o de ver o mistério desvendado. Saber que a identidade de Peter Parker foi revelada e que sua amada finalmente soube de seu segredo e aceitou seu amor, dá a nós, espectadores, uma sensação de alívio.  Mas como seria a continuação desta história?

Os créditos sobem e minha imaginação me faz pensar como seria a vida de Mary Jane casada com um super-herói, ocupado 24 horas por dia em salvar vidas. No início do casamento, felicidade total. O beijo que tinha feito ela se apaixonar pelo misterioso herói que lhe resgatara uma vez era, que bom, de seu marido. Mas, aos poucos, a vida a dois iria se desgastar, como em qualquer casamento. Com Peter ausente para derrotar inimigos em cada esquina, os momentos juntos eram cada vez mais escassos. Era ouvir o barulho de uma sirene para Mary saber que seu marido iria correndo se jogar da janela. Ela precisava de mais. Um marido de verdade, companheiro, presente.

Como obrigá-lo a lhe dar mais atenção, a ouvir suas histórias e a entender seus problemas? Como pensar num futuro com Peter? Como ter filhos e submetê-los ao perigo diário da vingança de algum inimigo? O que dizer às crianças sobre o pai a cada vez que ele se ausentasse? Então tomou coragem e chamou-o para discutir a relação. E vieram as pequenas discussões, as brigas, a separação.

O tempo passou e os dois descobriram que suas vidas eram melhores separadas. Ambos acreditavam que a felicidade estava no outro, mas a dor de saber que aquele amor estava se perdendo em meio à rotina e à solidão os fez abrir mão da união. E, como em outras histórias de amor, Mary Jane e Peter Parker resolveram ser apenas grandes amigos.

Ela casou-se, teve filhos com o ex-noivo que há muito abandonara na porta da igreja. Peter era praticamente da família: solteiro, o pouco tempo livre que tinha dedicava a ensinar aos meninos como ser um verdadeiro herói. Mas não cansava de repetir, como se estivesse arrependido pela decisão tomada um dia: “antes de pensar em salvar a vida alheia, ocupe-se em salvar sua própria felicidade.”

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Melhor Presente

Tenho uma amiga que me disse uma vez: “eu mato meu marido se ele não me der um presente decente de aniversário. Ano passado ele veio só com flores, vê se pode! Isso não é presente.” Nunca pensei assim. Sou do tipo que adora receber flores, e claro, presentes também. Mas, quase sempre, um gesto simples vale, sim, mais que uma jóia. Há algum tempo recebi no celular a mensagem de um cara que estou conhecendo: “sei que você não gosta de surpresas, mas tem uma pra ti no trabalho.” Tentei imaginar o que seria, não fazia a menor idéia. Mas já estava gostando da brincadeira.

Encontrei um papel dobrado escrito meu nome com caneta pilot e, dentro, um CD gravado por ele. As músicas do filme que discutimos outro dia num barzinho! Inconscientemente abri um sorriso e achei a coisa mais fofa do mundo. Às vezes, o simples fato de saber que alguém pensou em você e prestou atenção em um desejo seu, ainda que pequeno, vale bem mais que um presente caro que você nem está precisando. Minha necessidade não é de colares de brilhantes que não terei onde usar, nem do vestido que a Gisele Bundchen desfilou e que não terei corpo pra vestir, ou de objetos incríveis que não vão caber na minha casa.

Tenho necessidade de música, de sonho, de palavras, de leitura, de filmes, de fotografias. O que é mais romântico, seu namorado fazer uma colagem com fotos dos momentos mais bonitos que vocês passaram juntos ou te dar um porta-retrato de uma loja chique? O que vale mais, um cara que passa a tarde cozinhando seu prato preferido pra te surpreender quando você chegar em casa ou um que te leva pra jantar no restaurante que saiu na revista? O que tem mais valor, te dar um anel de aniversário ou saber que ele ligou pra todos os seus amigos e organizou uma festa surpresa com as pessoas que você mais ama?

Nada contra lojas caras, presentes de explodir o cartão de crédito ou jantares sofisticados. Mas preferiria saber que o cara é tão apaixonado por mim que sabe de cor meus gostos e, quando passou numa livraria, achou que eu não poderia viver sem o novo da Isabel Allende, em espanhol, que acabou de chegar às prateleiras. O romantismo está nos olhos de quem dá e, mais ainda, de quem recebe. Porque é muito melhor ganhar flores, beijos e um cartão com uma mensagem verdadeira do que um envelope com um cheque em branco.

Inveja

Quem disse que inveja é um sentimento apenas ruim? Eu mesma tenho inveja de muita coisa e não me sinto mal por isso. Talvez seja porque a minha inveja nunca foi de coisas materiais. Nunca tive o tênis colorido da Redley, nem o All Star cano longo, muito menos a mochila emborrachada da Company, ícones da década de 80. Mas nunca invejei quem os tinha.

Tenho inveja é de quem come besteira o dia inteiro e não engorda. De quem ataca a geladeira no meio da noite e volta pra cama pra dormir o sono dos justos sabendo que não aumentou um centímetro a silhueta. Tenho inveja de quem não tem medo de avião, apesar de eu mesma não ser das mais medrosas. Mas tem gente que não admite a hipótese do avião cair e se sente mais seguro ali do que dentro da própria casa. Tenho inveja de quem dorme em qualquer lugar, qualquer mesmo, com a facilidade que não tenho nem nos meus sonhos. Daqueles que dormem no meio da frase, com a cabeça pendurada e o bocão aberto, na maior, sem cerimônia.

Tenho inveja de quem consegue manter o esmalte na unha por até quinze dias sem soltar uma casquinha sequer. Tenho inveja de quem canta horas a fio sem perder a voz. A gente torcendo praquele sujeito (ou, na maioria das vezes, sujeita) que fala pelos cotovelos e grita mais do que todo mundo ficar rouco, e nada. Já eu, se falar por duas, três horinhas numa festa, to perdida. Tenho inveja de quem consegue ter orgasmos com alguém que nunca viu na vida, logo na primeira noite. Meu corpo, e certamente minha cabeça, precisam de mais tempo.

Tenho inveja de quem tem memória de elefante. Eu costumo ser a melhor pessoa para se confiar um segredo, porque alguns dias depois já nem vou me lembrar o que me contaram. Tenho inveja de quem tem talento nato pra praticar esporte, qualquer que seja. Eu sempre fui um zero à esquerda. Era a penúltima da turma do colégio a ser escolhida pra jogar no time de vôlei ou handebol. Sim, penúltima, ainda havia uma garota pior do que eu, a coitada. Isso marcou a minha infância (ainda bem que pra ser repórter esportiva não é preciso saber jogar nada). Tenho inveja de quem tem tempo sobrando, de quem tem habilidades manuais incríveis, de quem sabe desenhar, de quem tem idade suficiente pra tentar.

Algumas invejas já foram solucionadas, quer pela tecnologia, ou pelas circunstâncias da vida. Tinha inveja de quem tinha cabelos lisinhos, escorridos, daqueles que não seguram nem um grampo. Há algum tempo, a escova progressiva me trouxe essa alegria. Tinha inveja de quem falava muitos idiomas estrangeiros. Hoje em dia falo quatro. A inveja pode não ter nada de nobre, mas muitas vezes é aquela coceirinha que faz a gente se mexer e querer ser alguém um pouco melhor. Quando menos se espera, a inveja vira agente transformador e faz uma preguiçosa virar malhadora só pra ter a bunda daquela modelo; uma ignorante virar leitora voraz só pra saber mais do que aquela garota que se acha a mais inteligente.

E você, tem inveja de quê?