sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Pedido de Casamento

"Amiga, estou morando sozinha. Me pedi em casamento e aceitei!"
A frase não é minha, mas achei impossível ouvi-la sem escrever sobre o que ela representa. Também moro sozinha e tenho exatamente esta sensação. Como é bom viver numa época em que as mulheres não precisam necessariamente casar para ter sua própria casa. Aliás, este é um conselho que dou a todas: viva sozinha primeiro, conheça-se melhor, para depois pensar em dividir espaço com outro. Morar sozinha é ter uma liberdade incondicional. É poder ser bagunceira ou arrumadinha, sem que isso perturbe ninguém. É poder escolher entre viver num lugar careta ou transado, clássico ou moderno, de paredes brancas ou coloridas, e saber que essa decisão é só sua. Ter nossa própria casa é poder escolher o que vai passar na tv, não se preocupar com o volume do som, dar quantas festas por ano quiser, levar quem a gente bem entender pra passar a noite.

Conheço muita gente que nunca passou por essa experiência e, sinceramente, acho que estão perdendo uma parte essencial da vida. Morar sozinha é conquistar sua independência. É como viajar sozinha: você se sente mais responsável, tem obrigação de ser adulta. E como é bom poder confiar em si própria. Saber que você vai conseguir resolver aquele vazamento do banheiro, vai poder decidir se quer aquele móvel aqui ou ali, se aquela decoração combina ou não. Claro que quem monta uma casa sempre tem a ajuda de algum parente ou amigo que já passou por isso. Mas a palavra final é nossa, só nossa. É como entrar numa discussão tendo razão: a gente tem certeza de que vai sair ganhando.



  

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Pela Metade

Outro dia li um texto da Danuza Leão que gostaria de ter escrito. Começava assim:

"A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade.

A gente sai pra jantar, mas come pouco.  Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.

Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil.

Adora tomar um banho demorado,  mas se contém para não desperdiçar os recursos do planeta.

Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.

Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar.

E por aí vai."

Tudo bem, não dá pra passar pela vida fazendo só o que gosta. Espera aí, será mesmo que não dá? Minha avó já dizia que tudo que é exagerado faz mal. Mas e se aprendermos a dosar o que gostamos e injetarmos aos poucos esses prazeres nas nossas vidas ? Que tal transformar uma obrigação chata num dever não tão insuportável? É como fazer dieta, a tal lei da compensação. Come um brigadeiro hoje, fica o resto da semana na salada de frutas, pra compensar o estrago. Malha pesado hoje, se afunda no sofá amanhã. Simples assim, sem neura. Eu tive uma amiga que deixava de viajar de férias com a família porque no hotel não tinha academia. Morreu nova, de uma crise de asma, com 30 anos. Um pouco de felicidade, de fazer o que se gosta, me parece uma questão de sobrevivência. Já temos responsabilidades demais, já cumprimos ordens demais, já temos que aturar chatos demais.

Quando der vontade de fazer tudo errado, de ser ridícula, inadequada, incoerente, e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a seu respeito, simplesmente...seja. Afinal, quem paga suas contas é você mesma.

"Recuse prazeres incompletos e meias porções", aconselha Danuza.

Minha avó estava errada: felicidade exagerada não faz mal.