segunda-feira, 1 de julho de 2013

Impressões "uruguayas"

Foram 29 dias no país, minha 1a visita. Eis que descobri que...

-é o povo mais simpático que já vi, sempre com um sorriso e disposto a ajudar. Neste quesito, barraram os canadenses, que até agora eram top 1 da minha lista.
-até quando dizem "não", são educados e agradecem. Poderíamos aprender isso com eles.
-o país tem uma das melhores cozinhas que já provei, e não estou falando das carnes.
-a uva tannat, que só existe aqui, faz um vinho incrível. Virei fã.
-na academia, a maior caneleira é de...2 kg! ah, e ainda existe (e faz sucesso) aula de aeróbica!
-Montevidéu deve ser uma das poucas capitais do mundo onde não existe trânsito.
-os motoristas são pacientes, respeitam a faixa de pedestre e quase não buzinam. Poderíamos aprender isso com eles também. Ah, e os motociclistas jamais andam pelo corredor.
-Montevidéu é bem suja. E cara. A moeda não vale nada (8x menos que a nossa), mas os preços são carésimos e, muitas vezes, em dólar.
-o vento pode estragar a viagem nesta época fria. Aposto que no verão é bem mais agradável.
-Punta del Este é linda, vai merecer uma visita no verão. Nesta época estava quase tudo fechado por lá.
-a pequena Colônia é um must-go.
-a imprensa esportiva venera a Seleção Celeste, mesmo quando perde. A torcida também. Igualzinho fazemos no Brasil...

sábado, 15 de junho de 2013

Proteste já!

Protesto!
Contra os mal-educados que não respeitam a arte e falam alto nas salas de espetáculo.
Protesto!
Contra as contas altíssimas dos restaurantes do Rio.
Contra os garçons que esquecem nosso pedido.
Contra todos os serviços mal prestados.
Protesto!
Contra os salários astronômicos de uns, versus o  trabalho mal-remunerado de outros.
Contra a exploração de menores nos sinais de trânsito.
Contra a discriminação.
Protesto!
Contra quem joga lixo nas ruas.
Contra quem não para na faixa de pedestre.
Contra quem não cumpre com a palavra.
Protesto!
Contra quem quer tirar a guarda da mãe.
Contra quem é desonesto.
Contra quem quer me passar pra trás.
Protesto!
Contra os flanelinhas.
Contra a falta de segurança.
Contra os tiroteios e balas perdidas.
Protesto!
Contra a mania dos brasileiros de não dar valor ao que tem.
Contra a impunidade.
Contra a corrupção policial.
Protesto!
Contra bem mais coisas do que simplesmente 20 centavos.

domingo, 19 de maio de 2013

A Urgência das Palavras



Preciso sair. Transbordar, vomitar, sair. Romper o silêncio e fazer barulho. Não dá mais pra ficar presa aqui, neste cérebro, entre pensamentos que se movem tão depressa.Tenho que pegar um ar e fazer vibrar estas cordas, mexer esta língua, movimentar esta boca. Não posso mais ficar guardada. Quero deixar de ser estática e aparecer pro mundo, sou palavra e tenho minhas vontades. Preciso ventilar, ecoar, doer os ouvidos de quem quer que seja, onde quer que eu esteja. Preciso que me escutem na sala escura do cinema, no cantinho do balé, entre as notas do violino, na solidão da sala vazia, na lotação do Theatro Municipal. Quero sair. Ouçam-me. Não me importa quem esteja interpretando lá na frente, meu palco é a boca de qualquer um. Dobrem-se aos meus desejos, rendam-se a mim, eu vou passar. E ai de quem tentar me impedir.  Responderei no mesmo instante com a ironia dos mais fortes, porque nada se compara ao incômodo que eu posso causar. Quero tirar a atenção, despertar o interesse, mostrar que faço sentido mesmo quando não fizer. Não sou uma qualquer. Posso destruir sua linha de raciocínio, te desligar do concreto e sobressair com um tom mais alto. Sou capaz de mexer com suas emoções, estragar seu choro, arruinar suas sensações, interromper seu riso, desrespeitar seu momento, não me importa. Tenho que sair daqui. E tenho urgência. Não posso esperar que as luzes se acendam, preciso brilhar na escuridão, estou com pressa. Tenho que escapar por entre os lábios dos outros pra me sentir viva, me destacar da multidão e embaralhar os pensamentos do vizinho. Minha existência é nula aqui dentro, só existo quando saio por aí a incomodar. É hora de escolher uma vítima e atacar. Esqueçam a concentração deste momento, pois aqui vou eu, ganhar a liberdade com uma simples frase dita a esmo, sem pensar.

-Ai, como é que ele consegue decorar tudo isso? 






domingo, 21 de abril de 2013

NY, NY

Uma cidade de múltiplas personalidades. Que muda conforme a hora do dia, a estação do ano,  a economia americana.Assim é NY.O espelho do mundo? sim, se vc considerar que há um pouquinho de cada canto do planeta aqui. Basta andar na rua pra perceber que nenhuma cidade no mundo é mais DO mundo do que esta. 

Nós, cariocas, costumamos dar o exemplo da Lapa, ou até de Copacabana, quando queremos citar um lugar onde há uma mistura de todo tipo de gente. Pois NY é a Lapa elevada à décima potência. Entre seus oito milhōes de habitantes, tem de tudo. E pra todos os gostos. Há hippies, yuppies, neo-hippies, nerds, gays, isso pra citar só as expessōes na língua inglesa. Porque os descolados, os modernos, as patricinhas , os arrumadinhos, os sem-noção, os gringos, os malucos, também circulam com desenvoltura entre as ruas e avenidas da cidade que nunca dorme. Dificil é encontrar um novaiorquino da gema: parece que ninguem é daqui, apesr de todo o mundo estar aqui.

E nenhuma cidade é tao única. Onde mais é possivel encontrar, numa área de quatro quadras, três lojas que vendem apenas...perucas? Pois aqui, tem. E lojinhas de quinquilharias. E mega-stores de dez andares e oito filiais. E restaurantes russos, gregos, indianos, vietnamitas, tailandeses, caribenhos...e fartos. Muito, mas muito difícil passar fome em NY. E fazer dieta também. As porçōes tamanho familia -que aliás, vc encontra em todo o país, não só aqui-revelam a personalidade do povo- e de quem, mesmo vindo de fora, acabou se acostumando e adotando o american way of life: eles pensam grande. Big, really big. Tudo aqui é maxi. Sem mesquinharia.  A única coisa que me parece que o morador de NY não tem é espaço. A contar pelos tamanhos dos apartamentos. Nada comparado a Tóquio, claro, onde praticamente não há opção e todos vivem apertados por motivos óbvios. Manhattan também é uma ilha, e o valor do metro quadrado vem aumentando sensivelmente nestes anos pós-crise. Os custos são diretamente proporcionais ao conforto, e eu não estou falando de luxo, veja bem. Se no Brasil é quase impossível pensar num 
prédio sem elevador, aqui vc paga bem mais cado para ter este luxo. Máquina de lavar roupa dentro do apartamento? só se for pra sacrificar o espaço de um closet, porque ter as duas coisas, amigo, nao dá. A menos que vc  desembolse uma boa grana. 

Estou de mudança em breve, e , se meu apartamento terá ou não porteiro e elevador, ainda não sei. O que sei é que espero que minha vida nesta metrópole seja a cara da cidade: vibrante, agitada, interessante, farta, diversificada, moderna, e que nunca, nunca dorme. 

quinta-feira, 7 de março de 2013

Não quero...


...homens que pedem limonada.
...pessoas que não provam novos sabores.
...que não se arriscam à mesa, nem na vida.
...que querem sempre a mesma coisa - no restaurante, e na vida.
...mulheres que não se cuidam - desleixadas.
...homens que não emagrecem - preguiçosos.
...homens que não fazem surpresas - triviais.
...que não escrevem poemas.
...que não são românticos.
...que não aceitam. Que desconfiam.
...amigos que não se importam. Que ouvem, mas não escutam.
...cidades que não aconchegam. Que não tem brilho.
...conversas que não acrescentam.
...chefes que não respeitam.
...gente que só reclama. Anti-Polianas.
...filmes que não tem final.
...músicas sem harmonia.
...teses sem filosofia.
...respostas prontas.
...perguntas tolas.
...arte sem sentido, telas em branco.
...palavras sem garantia.
...promessas sem compromisso.
...histórias sem leitores.
...festa sem dança.
...luar sem casais.
...por-do-sol sem aplauso.









sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Vida de Repórter

Um dia estava fazendo um flash ao vivo na programação da Globo sobre as eleições. No meio do texto, o tenebroso e gigantesco fone despencou da minha cabeça. Paralisei. Não sabia o que fazer nem mais o que falar. Aí ouvi uma voz no meu ouvido -era a diretora do canal- dizendo um singelo 'encerra agora'. Foi meu primeiro "branco" no ar. Não foi o último.

Um dia me mandaram cobrir o famoso e badalado camarote de uma cervejaria na Marquês de Sapucaí. Lá estava, num curralzinho dos famosos, a top Gisele Bundchen, linda, de jeans, chinelo e regata branca. Para ter acesso a ela, fiquei num empurra-empurra durante meia hora e quando chegou a minha vez de entrevistá-la, fiz a pergunta e imediatamente uma mulher se jogou na frente da câmera. "Ela não tem condições de dar mais nenhuma entrevista neste estado, você me entende." Era a produtora dela. A uber model tinha bebido demais.

Um dia fui tentar entrevistar o Gugu num camarote da Marquês de Sapucaí. Ele era símbolo da tv concorrente, mesmo assim minha chefia mandou falar com ele, já que um dos enredos da noite era sobre Silvio Santos. Gugu me cumprimentou abraçado a uma, digamos, modelo, e a apresentou como 'minha namorada'. Não sei se foi coincidência mas o sungun, aquela luz portátil, se recusou a trabalhar. Trocamos o equipamento duas vezes e nada. A entrevista, no escuro, nunca foi ao ar.

Um dia fui entrevistar o ucraniano Sergey Bubka, o maior nome do salto com vara na história do esporte, campeão olímpico e 35 vezes recordista mundial. Ele começou me apressando porque tinha que viajar. A pergunta era sobre a melhor brasileira neste esporte em todos os tempos, Fabiana Murer. Antes de começar a responder, ele me perguntou: "vc é especialista na nova técnica dela?" Não era. "Ah..." ele sorriu, respondeu com meia dúzia de palavras e saiu.

Um dia fui à casa de Beth Carvalho lembrar como ela é apaixonada pelo Botafogo, de tal maneira que compôs uma música entoada pela torcida do clube. Depois de deixar a equipe esperando na sala por quase duas horas, ela apareceu. A entrevista foi ótima. Até o operador de áudio pedir que ela ligasse o aparelho de som pra poder captar no microfone a gravação da música. Ela ficou nervosa porque não sabia manejar direito o equipamento e começou a gritar. O operador, coitado, que sofre de uma certa demência, começou a tremer feito vara verde e não conseguiu sequer plugar o microfone no buraco da câmera. Naquele dia aprendi que não se contraria a rainha do samba.

Um dia estava pronta pra entrevistar ao vivo o então treinador do Fluminense, Abel Braga, que tinha acabado de vencer um jogo do campeonato brasileiro nos últimos minutos da partida. Era para ele estar feliz da vida, mas, antes que eu completasse a primeira pergunta, deu pra ouvi-lo, aos berrros reclamando com o assessor de imprensa do clube, 'Alexandre, assim não dá, assim não'. É que eu era a última a entrar no ar, e Abel estava com pressa.

Um dia fui entrevistar o técnico de vôlei multicampeão Bernardinho depois de uma derrota no campeonato brasileiro. Ele estava nervoso porque tinha vazado na imprensa que ele chamaria de volta à seleção brasileira o levantador Ricardinho, com quem havia brigado há mais de um ano. Na hora de responder à pergunta, começou me dando bronca ao vivo: "karin, eu falei que não era pra perguntar sobre isso, você, hein!" Não foi a primeira nem a última vez que fui alvo de tanto stress acumulado. Da próxima, receito uma massagem com pedras quentes que é tiro e queda.

Um dia fui ao hotel onde estava o cantor Neil Young, perguntar sobre o show que ele faria na noite seguinte no Rock in Rio 3. Na véspera, o guitarrista de uma banda de rock havia subido ao palco nu, coberto apenas pelo instrumento. Inocentemente, perguntei a Neil Young: "vc não vai fazer como ontem à noite e ficar nu não, né?" E ele, rápido no gatilho, aproveitando minha pergunta de duplo sentido: "como vc sabe que eu estava nu ontem à noite?' Ruborizei.

Um dia estava entrevistando o maior medalhista olímpico de todos os tempos, o nadador americano Michael Phelps, dono de 19 medalhas olímpicas, não exatamente conhecido por sua beleza física, e perguntei na lata: "Vc é um bom partido?". Aí foi o cara que ruborizou.

( a continuar...)



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Rotina

Durmo com a certeza de um novo dia. Acordo no céu, pertinho das nuvens, sonolenta nas asas de um avião que me leva pra longe de casa. Vejo uma paisagem diferente da janela do carro, cinza, chuvosa, fria. Ouço histórias de homens bons, de homens maus, de homens que chegaram ao fundo do poço consumidos pela noção errada de prazer. Escuto, atenta, palavras de arrependimento, súplicas de quem esteve perdido e agora tenta reencontrar a vida. Pergunto sem parar e o que eu ouço são relatos de momentos tristes, solitários, amargos, vazios de existência. Saio dali e me refestelo no ar condicionado do quarto de hotel, igualmente sem vida, impessoal, gélido. Saio, tomo uma taça de vinho, como um prato de sabor familiar pra me sentir mais próxima do mundo real. Durmo, acordo e mais uma vez sigo em busca de depoimentos de sobreviventes, e o que encontro são as lágrimas desses sobreviventes. Aprendi a me distanciar das mazelas alheias nestes quinze anos de jornalismo. Mas choro por dentro, com a pouca certeza da esperança, com um milímetro apenas de fé. Recorro ao cinema e vejo na telona uma fábula sobre esta mesma fé, sobre Deus, sobre a natureza, sobre imaginação, crença e infância. Volto mais uma vez pro mundo e janto um prato que vem de longe, da Índia, para que seu sabor me leve pra longe e me inspire a escrever essas palavras. Vou dormir com aquela sensação confortante, aquela mesma certeza de um novo dia.