segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sobre as Notícias

Fala-se em terapia para presidiário. Mais do que isso, psicologia pra entender cabeça de pistoleiro – ou para que o pistoleiro entenda sua própria cabeça, o que já seria um avanço. Fala-se em rebelião de presos nas Minas Gerais, que, bem acomodados em celas onde sobram vagas, exigem telefone, ar-condicionado e tv a cabo- por que não? Tudo às nossas custas, claro. Noticiam sem parar a greve dos caminhoneiros autônomos. Centenas de máquinas bloqueando nosso direito de ir e vir. E o pior é que a incompetência do Ministro dos Transportes nos obriga a ficar parados, esperando que uma santa bomba de gás lacrimogêneo caia do céu e nos deixe ir pra casa. Fala-se da falta de estrutura de um país imenso que está para sempre escravo das duas rodas, do asfalto, do petróleo, dos caminhoneiros.

Fala-se também em violência doméstica. Nosso bom e velho amigo Flipper- o golfinho- quem diria!, estupra e maltrata fêmeas e mata filhotes como um jovem criminoso. Desafiando nossa imaginação, sempre tão acostumada a vê-los como dóceis e inteligentes criaturas. Mas não é só isso. Fala-se também de uma experiência única, que vai além das fronteiras espaciais: um homem sepultado na lua. Ele não conseguiu ser astronauta mas seus estudos ajudaram na corrida espacial. O satélite se curva para receber cinzas humanas.

Desbanca-se o mito do ovo. O vilão histórico muda de lado, e, tal qual Flipper, nos surpreende – só que vem pro lado bom da Força. Fala-se de uma discriminação absurda, verdadeira loucura de velho. Um condomínio no interior da Inglaterra que não aceita menores de 15 anos. Seja morador ou visitante! A justificativa é o barulho que essas criaturinhas podem fazer. O condomínio é reservado a aposentados, solteirões, casais – sem filhos, claro. Crianças estragariam a paz do lugar. Em tempo: cães e gatos são bem aceitos. Coisas de um mundo surrealista. Se contar, ninguém acredita.

sábado, 17 de julho de 2010

Memórias da Minha Infância

Lembro da amarelinha pulada entre as pedras do quintal. Da piscina Tone cercada por lírios amarelos onde minha irmã e eu inventávamos brincadeiras no verão: a preferida era correr dentro d’água a toda velocidade, até que se formasse uma gostosa marola, para, então, deitar e deixar o corpinho deslizar. Lembro do som incansável da cigarra. De aprender a andar de patins, aos 7 anos, e de bicicleta, tardiamente, aos 11. Lembro da cesta de basquete pendurada em cima da garagem, da mesa de ping-pong montada em frente a ela, do velocípede que chamava de motoca. Lembro do som alto tocando Stevie Wonder e Queen, músicas que não eram nem um pouco pra meninas da minha idade, mas que provavam que bom gosto, sim, é que não tem idade. Sol de Verão, Blitz, Mão Branca, Cabeça Dinossauro. Vinis na vitrola que tinha orgulho de ser minha, só minha. Lembro das coreografias ensaiadas exaustivamente com a irmã para apresentar aos pais de noite. Das olhadinhas pelo muro para o vizinho da minha idade, que nunca tinha falado comigo, mas que habitava os sonhos românticos de uma garota de 8 anos. Lembro de ir pra casa da vizinha pra comer jabuticaba, de pular o muro e roubar escondido pitanga direto do pé. Lembro das sopas coloridas no inverno, da fumacinha da panqueca de espinafre esfriando na janela antes de ser servida. Hm, delícia.


Lembro dos imensos jardins da Escola Viva, do teatrinho no último dia antes de mudar de colégio. Eu, que nem gostava da aula, acabei protagonista, na pele do camaleão que tinha que agradar a todos os bichos da floresta, mudando de cor a toda hora. “Quem não agrada a si mesmo, não pode agradar a ninguém”, moral da história. Lembro do campinho de terra batida, das festas juninas com lindos vestidos feitos à mão pela mãe, das fantasias de carnaval que brotavam da máquina de costura da avó. Vestida de odalisca ou de chuva, longos cachos no cabelo, sorriso doce no rosto. Lembro dos dias na casa da Praia do Saco, tendo que correr na areia pra me esquentar porque no chuveiro da casa não tinha água quente. Lembro da picada de abelha, das tardes com Monteiro Lobato na rede da varanda, da batata doce e do milho assados na fogueira feita na calçada, das lasanhas vegetarianas que eram a melhor coisa do mundo.

Lembro das férias sem fim na casa da avó querida, e agora meus olhos se enchem de lágrimas de saudade. Teatro infantil, patinação no gelo, brincadeiras no playground até dez da noite, verdade ou conseqüência, pêra, uva, maçã, salada mista. Lembro do jogo de queimado, de pique-esconde, de pular elástico, corda, das apresentações em que sempre ganhava o titulo de melhor cantora do grupo, com a ajuda providencial da acústica do play, que me transformava em Rosana, como uma deusa. Lembro de apertar a campainha de todos os andares e sair correndo, da velha maluca que ameaçava tacar uma panela de água quente na gente, da curiosidade nunca matada de saber como era a tal brincadeira do copo. Lembro de sentar em rodinha no chão pra jogar, jogar de tudo: Pega-Varetas, Playmobil, Banco Imobiliário, Genius, Detetive, Sessenta Segundos, Lince, Jogo da Vida, a vida é mesmo pura brincadeira quando se tem uma boa infância. Lembro de quando a felicidade estava num quarto escuro, com minhas amigas, brincando de “gato mia”. Das festinhas que a gente entrava de penetra, da criatividade em criar um grupo só nosso, com carteirinha de sócio e tudo, eu, a irmã e Paula, amizade eterna com o codinome “kids”. Lembro de ouvir os mais velhos dizerem que a infância é a melhor parte da vida, e agradeço a quem me proporcionou momentos inesquecíveis como estes.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Mal-educados

Deu no Jornal Nacional: os americanos estão mais mal-educados. Aquela história de abrir a porta do carro para as damas e senhoras, todo mundo sabe, já não existe mais há muito. Não é disso que estavam falando. Trata-se de um mínimo de educação que, por mais que a gente não perceba, deixou de fazer parte da rotina capitalista-escrava dos nossos dias. Escrava sim, do trabalho, da hora marcada, do próximo compromisso, da correria que impede o mundo de (voltar a) ser cordial.

É claro que não são só nossos vizinhos de cima que sofrem com o novo mal-estar desta civilização. Talvez eles só tenham constatado que os primeiros sintomas desta febre estão fazendo cada vez mais vítimas. Agressão, violência, armas em punho para eliminar quem nos contraria – este é o resultado da cultura má educação que assola o planeta. As crianças também reclamam, afinal, são elas as principais vitimas da falta de educação dos mais velhos. Dizia o menino na reportagem: os adultos só pensam neles. E aí entra mais um elemento desta louca fórmula que pode resultar em tragédia: o egoísmo. “Eu”, mais que o outro, tenho o direito de passar à frente dele e tomar seu lugar, posso bater sem ser atingido, posso gritar, xingar, empurrar, despejar palavrões insensatos, ser hostil, “eu posso”, “eu quero”, a cultura do egoísta fazendo miséria no mundo dos homens miseráveis de espírito.

Na era da máquina, da tecnologia digital, na era espacial onde a cada dia um limite é ultrapassado, falta-nos um cientista para inventar um só botão: que desligue pra sempre o mecanismo que nos faz estúpidos e mal-educados. Falta só descobrir qual é.

sábado, 10 de julho de 2010

A Idade Certa

O que você faria se descobrisse que está afim de um cara nove anos mais novo? Vivemos numa época em que situações como esta parecem fáceis de serem encaradas. Você provavelmente conhece alguém que passou por isso e até já deve ter dado opinião em um caso semelhante. A diferença é que se tratava de uma amiga e, agora, o papo é mais sério: aconteceu com você, que já não é nenhuma adolescente. Sim, porque quanto mais novos somos, menos a diferença de idade interfere numa relação. Mas você já passou dos 30, já viveu, já teve grandes amores, grandes desilusões, já conhece o mundo e sabe muito bem o que esperar das pessoas que vivem nele. E, por ter toda esta experiência acumulada, sabe também que não será fácil encarar seus amigos, sua família, com um cara... nove anos mais jovem! Ainda que ele tenha boas idéias, atitudes adultas, inteligência suficiente pra manter uma conversa civilizada e uma maturidade de dar inveja a muita gente, na hora H, na real mesmo, ele é só um garoto... de 23. Um menino, não um homem.

Mas afinal, o que ele tem que você não encontra nos caras da sua idade? Por que esse menino te atraiu de uma maneira que nenhum marmanjo conseguiu, pelo menos não nos últimos... quinze meses? Você vai começar dizendo que ele te faz se sentir mais nova. Que faz o estilo romântico, sem pressa de te levar logo pra cama porque sabe que tem a vida inteira pela frente. Que ele ouve você em vez de ficar horas falando só dele. Que presta atenção nos seus desejos e é capaz de saber certinho o que você quer de Natal. Que tem um jeito doce de quem ainda não sofreu na vida. Que a memória dele é tão boa que repara que você cortou o cabelo e sabe o vestido que você usou na festa de uma amiga no mês passado. Que o beijo suave dentro do carro, com o vidro quase embaçando, meio às escondidas, faz você se sentir de novo com quinze anos de idade. Que ele dança com um charme que você nunca tinha visto antes. Que ele topa qualquer coisa que você queira fazer e, ao mesmo tempo, não fica esperando que você decida tudo, ao contrário, toma a atitude de te convidar pros programas mais agradáveis. Que ele tem uma energia única, capaz de estudar, trabalhar e ainda ter fôlego pra te chamar pra sair quase todas as noites. A energia que sobra num cara de 23 certamente vai faltar num de 40.

As rugas que ele ainda não tem provavelmente vão fazer você esquecer as suas. A juventude é uma dádiva irremediável. O fato é que, se ele é tudo isso mesmo e você não está apenas fantasiando, esqueça a carteira de identidade dele, esconda sua certidão de nascimento e seja feliz. A vida não é feita de números, e a convenção de que os homens tem que ser mais velhos, ou pelo menos da mesma idade das mulheres, é coisa do século retrasado. Motivo suficiente para ficar com ele, você já tem. E além do mais, não há mal nenhum em ser chamada de “tia” de vez em quando.

sábado, 3 de julho de 2010

A Sua Seleção

É tempo de pensar em seleção. Mas não só nas de futebol, que vem decepcionando fãs mundo afora. Que tal pensar na seleção da sua vida? Quem você convocou durante esses anos todos pra fazer parte dela? Quantos craques você deixou de fora por motivos que até hoje nem você mesmo entende? A quem foi dada a oportunidade de balançar seu coração, de compartilhar com você os momentos mais importantes? Quem foi convocado como titular dos seus pensamentos e acabou decepcionando antes do apito final? Em quem você depositou esperanças, confiou cegamente, pra ser surpreendida com um cartão vermelho aos 45 do segundo tempo? Quantas vezes você escalou amigos que não corresponderam, namorados que te fizeram sentir derrotada e cansada de tanto correr sem chegar a lugar algum? Nunca é tarde pra colocar a mão na consciência e, tal como o Dunga deveria fazer, se perguntar: onde foi que eu errei?


É muito mais fácil não saber perder e jogar a culpa no cara que era um galinha e não te dava valor, no outro que nunca prestou atenção em você ou dizer que a vida nunca te deu a chance de ser feliz como você merecia. Mas até quando? Você pode ter mais quatro anos pra sonhar com um titulo de campeão, mas talvez seja tempo demais pra perder com escolhas erradas. Assim como no futebol, acertar não é fácil. Muitas vezes deixamos de escolher quem parece melhor aos olhos de todos e optamos por outro que é pura ilusão. Afinal, qual o estilo de jogo que você quer pra sua vida? Cadenciado, livre, aberto, ou enlouquecido, pressionado, tenso?

Sair vitoriosa sempre é questão de pura sorte. É preciso ter muita frieza para prever o resultado final antes de fazermos nossas escolhas. Agir por impulso é humano, inevitável. Burrice é saber que aqueles onze em campo nunca vão conseguir transformar o futebol em vitória e, cabeça dura, continuar apostando neles sem dar ouvidos a mais ninguém. Duro é ter nas mãos a opção do caminho certo mas ser teimosa e insistir no erro. Se, no esporte mais amado do mundo, sempre teremos mais quatro anos pra tentar outra vez, na vida não há segunda chance: se você desperdiçar um gol feito pode se arrepender pra sempre.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Prazeres da Vida

Prazer é tomar um bom vinho e comer doce de leite.

Prazer é viajar e conhecer outras pessoas, outras ruas de outras cidades, outros cheiros, outras florestas, outras praias.
É sentar e ver as palavras fluírem até concluir, satisfeita: hoje escrevi alguma coisa e me saí bem.

É poder dar um beijo de boa noite em quem se ama pessoalmente, e não pelo telefone.

É dar uma boa notícia para alguém que realmente importa.

Prazer é poder ver seu amor abrindo aquele presente que você comprou com tanto carinho, pensando nele.

Prazer é ser feliz com a rotina, acordando, trabalhando no que gosta, vendo um bom filme, indo dormir cedo.

Prazer é ouvir uma boa música, descobrir uma banda nova sensacional que pouca gente conhece, ouvir som alto.

Prazer é ler um bom livro, daqueles que te fazem ficar com um sorrisinho no canto da boca.

É saber que você é amada. Que em algum lugar do mundo alguém especial está pensando em você.

É pegar aquele velho álbum de fotos e ver como a vida foi generosa contigo.

Prazer é dar gargalhadas com suas melhores amigas. É poder compartilhar os momentos mais importantes da vida delas.

Prazer é ter mãe presente, ter irmãos que se ama, ver seus filhos crescerem como uma prova de como você os educou bem.

Prazer é ver um bom filme de Woody Allen. É ter a sensação de que aquela comédia romântica foi um pouquinho inspirada na sua vida.

É ler uma mensagem que ele te mandou dizendo que está com saudades e que não vê a hora de te encontrar e te encher de beijos.

Prazer a gente sente com os ouvidos, com os olhos, o olfato, o paladar, o tato – ah,o tato.

Prazer a gente sente com o corpo, a alma e o coração.

Prazer é viver com aquela sensação boa de que se ama, de que o coração está preenchido e satisfeito.

Prazer é estar feliz, em qualquer lugar.