sábado, 26 de junho de 2010

Sem Graça

A vida perde 100% da graça sem música. Metade da graça sem álcool. 40% da graça sem chocolate.

A vida perde a graça quando não se tem amigos pra contar aquele segredo que ninguém mais pode saber. Quando não se tem uma lua amarela e enorme pra admirar, nem um sol quentinho pra nos aquecer num dia frio de inverno.

A vida perde a graça quando não choramos mais com uma história de amor, quando não nos emocionamos mais com nossos ídolos batendo recordes, quando não gargalhamos à toa, como quando éramos pequenos. A vida perde toda a graça sem novos desafios, sem novas amizades, com velhos preconceitos.

Uma vida sem graça é uma vida sem novidades, sem banho de mar, sem ninguém pra gostar. Sem lugares pra conhecer, sem gritos de gol, sem paixões, sem desilusões. Uma vida sem graça é uma vida sem arte, sem palavras sinceras, sem cumplicidade, sem bons conselhos.

A vida perde a graça sem o toque da pessoa que a gente ama, sem as palavras de apoio de quem a gente admira, sem o carinho da nossa mãe. A vida perde a graça sem porres homéricos pra se arrepender, sem loucuras pra fazer, sem aventuras pra viver. A vida perde a graça quando não se sabe aproveitar as coisas simples, como uma brisa num dia frenético de verão, o barulho das folhas balançando, o som das ondas batendo na praia.

Perde a graça quando a gente não olha pra ela com a beleza que ela merece.

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terça-feira, 15 de junho de 2010

Mudar é preciso

Todo mundo tem um pouco de medo de mudanças.


Medo de que o novo chefe não goste do seu trabalho, medo de não saber se vai se adaptar ao novo apartamento, aos novos vizinhos, medo de não corresponder às expectativas no novo cargo, medo de trocar o carro que você ama por aquele modelo lindo que você nunca dirigiu.

É natural. O ser humano tem a mania de se acomodar com as situações em que vive. Mas às vezes a gente precisa de uma mudança radical. Transformar nossa vida numa outra coisa, totalmente diferente.

Todos os dias ouvimos histórias assim: tenho medo de me separar do meu marido. Medo de deixar meu namorado de cinco anos e meio por um cara novo que eu estou conhecendo. Medo de largar meu emprego e sair pelo mundo. Medo de cortar o cabelo curtinho. Medo de trocar o curso de medicina pelo de culinária. Medo do que os outros irão pensar se eu cancelar meu noivado porque não o amo mais. Medo.

Sei que tomar decisões importantes, ir da água pro vinho, é mesmo difícil. Mas, quase sempre, é necessário.
O que seria da humanidade se ninguém tivesse coragem de tentar algo novo? O que será da sua vida se você não largar a carreira que odeia, se não se declarar pra pessoa que sempre amou escondido, se não experimentar algo pela primeira vez? A monotonia da vida é a gente que faz.

Você pode passar o resto dos seus dias sentado aí, sem nunca ter realizado o sonho de virar estilista. Sem nunca ter experimentado. Sem nunca ter dado uma guinada. Você pode se afundar no sofá e ficar vendo na tv todos aqueles lugares lindos que você nunca teve coragem de conhecer.

Mas você também pode dar adeus ao patrão grosseiro, ao carro velho, aos amigos que não te acrescentam nada, ao emprego que te sufoca, ao penteado que não tem mais nada a ver com quem você é. A receita para ser feliz é ter coragem para ser feliz. Seja aos 30, aos 40 ou aos 60 anos, mudar é preciso. Antes que seja tarde.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

À Espera da Vida

A vida é uma eterna espera. Vivemos esperando que tudo de bom aconteça, que o emprego novo dê resultado, que a escolha tenha sido a certa. Esperamos que aquela amiga apareça pra jantar, um telefonema de quem está longe, um elogio do chefe, ganhar na mega sena, que o resfriado sare logo, que o inverno não seja tão frio nem o verão tão quente, que nossa mãe não brigue porque a gente chegou tarde, um aumento de salário, esperamos que nossas rugas demorem a aparecer e que nosso príncipe encantado nos reconheça no meio da enfumaçada pista de dança daquela boate lotada.

Esperamos ter paz, saúde, amor e dinheiro no bolso no Ano Novo, esperamos que o filme seja bom, esperamos ter dinheiro pra trocar de carro, esperamos nos sair bem naquela entrevista, esperamos que nossos cabelos não fiquem brancos e que, ao contrário, alguém nos diga como estamos jovens e magras. Esperamos não sermos assaltadas, que o trânsito esteja bom na viagem de feriadão, que a receita nova que fizemos esteja gostosa, que alguém que a gente ama nos corresponda com o mesmo sentimento.

Esperar por algo que está pra acontecer é sempre mais angustiante que esperar uma coisa que sabemos que pode se realizar no futuro. Esperar pra fazer xixi na fila enorme do banheiro de um show de rock é infinitamente pior do que esperar que mês que vem faça sol, ou que a empregada apareça no fim-de-semana. Parece que os minutos, os segundos, demoram mais a passar quanto mais perto o fato está de acontecer. Esperar a hora marcada pro primeiro encontro a dois é quase sufocante. Esperar o sinal abrir, nem tanto.

Vivemos numa infinita lista de espera, seja para entrar no restaurante recém-inaugurado ou para mudarmos de emprego. Parece sempre que alguém chegou na nossa frente e nunca se sabe quando virá a nossa vez. Se a espera é longa, o mais difícil é manter a calma e a persistência. Eu, por exemplo, detesto esperar. Não sou exatamente uma pessoa que insiste nas coisas. Quando algo parece que não vai rolar, desisto facilmente. Se isso é bom ou ruim, tenho minhas dúvidas. Mas também não quero que esperem por mim, nem muito menos que esperem algo de mim.

Mas, como todo mundo, espero que todos os meus sonhos se realizem, ou, ao menos, que eu seja feliz todos os dias.

E, pra isso, não dá pra ficar sentada esperando.

domingo, 6 de junho de 2010

Adorar x Amar

Ele dá todas as demonstrações de que te ama. Liga quatro vezes por dia, faz tudo o que você pede, se preocupa se você chegou bem em casa, troca os pneus do seu carro, vê o filme que você escolheu, compra o cd com a sua música preferida e põe pra tocar de surpresa, deixa você dormir um pouco mais e prepara o café-da-manhã, viaja no roteiro que você escolher, entende quando você está cansada e oferece uma massagem relaxante, te busca no meio da madrugada pra dormir com ele, te pega no colo e leva pra cama, adora fazer sexo com você, traz seus bombons favoritos da viagem ao sul do país.

Mas nunca disse “eu te amo”. As três palavrinhas mágicas que toda mulher quer ouvir. E o pior: você já declarou seu amor pra ele. Primeiro escreveu, depois disse com todas as letras, e ele, nada. Nem um insosso “eu também”. É o suficiente pra você desconfiar de toda aquela paixão. Pra você não se sentir mais amada. Pra você suspeitar quando ele não atende o telefone e não responde seus torpedos. Ele diz que te adora. Escreve que te adora, com menos freqüência do que você gostaria. Mas a distância entre adorar e amar é grande, você sabe.

Adoramos sorvete de flocos, jantar à luz de velas, ficar de folga, sair de sapato baixo.

Amamos coisas bem mais importantes: nosso bicho de estimação, aquele filme que nos fez chorar, a música que tocava quando nos beijamos pela primeira vez, viajar pelo mundo. Pessoas adoram e amam coisas diferentes e todas sabem muito bem a diferença entre esses dois verbos. O limite entre adorar e amar pode ser tênue, e ouvir um “eu te adoro” não é tão ruim assim, pelo contrário. Mas nós, mulheres, não nos contentamos com nada menos que um “eu te amo”. Queremos que nos amem 100% e não pela metade. Adorar é bom. Mas infelizes daqueles que não conseguem amar.

Perfeitos

Alguém certamente já escreveu sobre ela: a perfeição. Que mal tem em querer um homem que tenha todas as qualidades que você busca?

O que é que custa ser inteligente, sensível, bonito, bom de cama, sarado, sexy, espirituoso, romântico, sonhador, engraçado, simpático, trabalhador, rico, hetero e ... disponível? Pois eu quero alguém que me preencha. Que me acrescente, me entenda, me ame, me perdoe, me seduza, me encante, me surpreenda, me envolva, me respeite, me ...

Alguém que esconda bilhetes na minha roupa, que me encha de elogios sinceros, que me observe enquanto eu durmo, que sorria quando eu apareça, que me beije como se eu fosse a primeira, que sinta minha falta e fale que sente, que recite frases românticas de amor eterno, que me ligue quando ouvir minha música predileta pra dizer que está pensando em mim, que me mande flores, cartões, declarações, que me pegue no colo e diga que eu sou levinha, que pare o carro perto da marquise quando estiver chovendo, que me beije no sinal fechado, que acorde e me dê bom dia, que de vez em quando se ofereça para preparar meu café da manhã, que faça uma surpresa e apareça no meio do dia, que me incentive no trabalho, que goste de ir ao cinema, que aprecie meu vinho preferido, que goste dos drinks que eu preparo, que viaje comigo pra onde nossa imaginação desejar. Ah, sim, e que eu ame.

Mas por que buscamos um par perfeito? Talvez porque seja mais fácil namorar um príncipe encantado, não dá trabalho. Pena que a metade da laranja quase sempre esteja escondida dentro de um saco com outras milhões de laranjas. E não há nada mais chato do que procurar uma coisa e nunca achar. É como perder a tarracha daquele brinco preferido no chão da boate. Nem pense em querer encontrar. E quando a gente vê aquele brilho reluzindo entre tantos pés dançantes, quando a gente pensa que tirou a sorte grande e se abaixa pra pegá-la, alguém passa e chuta sua esperança pra longe dali.

Se a perfeição existe, se alguém a conhece, me apresente. Sou a primeira desta fila que não pára de crescer. E prometo retribuir: é satisfação garantida ou seu dinheiro de volta.

sábado, 5 de junho de 2010

A Noiva do Homem-Aranha

Foi como todo final feliz que se preze: a mocinha, que antes relutava em aceitar o amor do herói, acaba deixando o noivo “certinho”no altar pra viver seu grande romance. Foi assim com Mary Jane e Peter Parker. Ela, uma atriz às voltas com uma peça de sucesso num grande teatro; ele, fotógrafo freelancer para um tablóide sensacionalista e, nas horas vagas, super-herói. O final do filme “Homem-Aranha 2” nos dá um prazer que nunca tivemos em outras obras do gênero: o de ver o mistério desvendado. Saber que a identidade de Peter Parker foi revelada e que sua amada finalmente soube de seu segredo e aceitou seu amor, dá a nós, espectadores, uma sensação de alívio.  Mas como seria a continuação desta história?

Os créditos sobem e minha imaginação me faz pensar como seria a vida de Mary Jane casada com um super-herói, ocupado 24 horas por dia em salvar vidas. No início do casamento, felicidade total. O beijo que tinha feito ela se apaixonar pelo misterioso herói que lhe resgatara uma vez era, que bom, de seu marido. Mas, aos poucos, a vida a dois iria se desgastar, como em qualquer casamento. Com Peter ausente para derrotar inimigos em cada esquina, os momentos juntos eram cada vez mais escassos. Era ouvir o barulho de uma sirene para Mary saber que seu marido iria correndo se jogar da janela. Ela precisava de mais. Um marido de verdade, companheiro, presente.

Como obrigá-lo a lhe dar mais atenção, a ouvir suas histórias e a entender seus problemas? Como pensar num futuro com Peter? Como ter filhos e submetê-los ao perigo diário da vingança de algum inimigo? O que dizer às crianças sobre o pai a cada vez que ele se ausentasse? Então tomou coragem e chamou-o para discutir a relação. E vieram as pequenas discussões, as brigas, a separação.

O tempo passou e os dois descobriram que suas vidas eram melhores separadas. Ambos acreditavam que a felicidade estava no outro, mas a dor de saber que aquele amor estava se perdendo em meio à rotina e à solidão os fez abrir mão da união. E, como em outras histórias de amor, Mary Jane e Peter Parker resolveram ser apenas grandes amigos.

Ela casou-se, teve filhos com o ex-noivo que há muito abandonara na porta da igreja. Peter era praticamente da família: solteiro, o pouco tempo livre que tinha dedicava a ensinar aos meninos como ser um verdadeiro herói. Mas não cansava de repetir, como se estivesse arrependido pela decisão tomada um dia: “antes de pensar em salvar a vida alheia, ocupe-se em salvar sua própria felicidade.”

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Melhor Presente

Tenho uma amiga que me disse uma vez: “eu mato meu marido se ele não me der um presente decente de aniversário. Ano passado ele veio só com flores, vê se pode! Isso não é presente.” Nunca pensei assim. Sou do tipo que adora receber flores, e claro, presentes também. Mas, quase sempre, um gesto simples vale, sim, mais que uma jóia. Há algum tempo recebi no celular a mensagem de um cara que estou conhecendo: “sei que você não gosta de surpresas, mas tem uma pra ti no trabalho.” Tentei imaginar o que seria, não fazia a menor idéia. Mas já estava gostando da brincadeira.

Encontrei um papel dobrado escrito meu nome com caneta pilot e, dentro, um CD gravado por ele. As músicas do filme que discutimos outro dia num barzinho! Inconscientemente abri um sorriso e achei a coisa mais fofa do mundo. Às vezes, o simples fato de saber que alguém pensou em você e prestou atenção em um desejo seu, ainda que pequeno, vale bem mais que um presente caro que você nem está precisando. Minha necessidade não é de colares de brilhantes que não terei onde usar, nem do vestido que a Gisele Bundchen desfilou e que não terei corpo pra vestir, ou de objetos incríveis que não vão caber na minha casa.

Tenho necessidade de música, de sonho, de palavras, de leitura, de filmes, de fotografias. O que é mais romântico, seu namorado fazer uma colagem com fotos dos momentos mais bonitos que vocês passaram juntos ou te dar um porta-retrato de uma loja chique? O que vale mais, um cara que passa a tarde cozinhando seu prato preferido pra te surpreender quando você chegar em casa ou um que te leva pra jantar no restaurante que saiu na revista? O que tem mais valor, te dar um anel de aniversário ou saber que ele ligou pra todos os seus amigos e organizou uma festa surpresa com as pessoas que você mais ama?

Nada contra lojas caras, presentes de explodir o cartão de crédito ou jantares sofisticados. Mas preferiria saber que o cara é tão apaixonado por mim que sabe de cor meus gostos e, quando passou numa livraria, achou que eu não poderia viver sem o novo da Isabel Allende, em espanhol, que acabou de chegar às prateleiras. O romantismo está nos olhos de quem dá e, mais ainda, de quem recebe. Porque é muito melhor ganhar flores, beijos e um cartão com uma mensagem verdadeira do que um envelope com um cheque em branco.

Inveja

Quem disse que inveja é um sentimento apenas ruim? Eu mesma tenho inveja de muita coisa e não me sinto mal por isso. Talvez seja porque a minha inveja nunca foi de coisas materiais. Nunca tive o tênis colorido da Redley, nem o All Star cano longo, muito menos a mochila emborrachada da Company, ícones da década de 80. Mas nunca invejei quem os tinha.

Tenho inveja é de quem come besteira o dia inteiro e não engorda. De quem ataca a geladeira no meio da noite e volta pra cama pra dormir o sono dos justos sabendo que não aumentou um centímetro a silhueta. Tenho inveja de quem não tem medo de avião, apesar de eu mesma não ser das mais medrosas. Mas tem gente que não admite a hipótese do avião cair e se sente mais seguro ali do que dentro da própria casa. Tenho inveja de quem dorme em qualquer lugar, qualquer mesmo, com a facilidade que não tenho nem nos meus sonhos. Daqueles que dormem no meio da frase, com a cabeça pendurada e o bocão aberto, na maior, sem cerimônia.

Tenho inveja de quem consegue manter o esmalte na unha por até quinze dias sem soltar uma casquinha sequer. Tenho inveja de quem canta horas a fio sem perder a voz. A gente torcendo praquele sujeito (ou, na maioria das vezes, sujeita) que fala pelos cotovelos e grita mais do que todo mundo ficar rouco, e nada. Já eu, se falar por duas, três horinhas numa festa, to perdida. Tenho inveja de quem consegue ter orgasmos com alguém que nunca viu na vida, logo na primeira noite. Meu corpo, e certamente minha cabeça, precisam de mais tempo.

Tenho inveja de quem tem memória de elefante. Eu costumo ser a melhor pessoa para se confiar um segredo, porque alguns dias depois já nem vou me lembrar o que me contaram. Tenho inveja de quem tem talento nato pra praticar esporte, qualquer que seja. Eu sempre fui um zero à esquerda. Era a penúltima da turma do colégio a ser escolhida pra jogar no time de vôlei ou handebol. Sim, penúltima, ainda havia uma garota pior do que eu, a coitada. Isso marcou a minha infância (ainda bem que pra ser repórter esportiva não é preciso saber jogar nada). Tenho inveja de quem tem tempo sobrando, de quem tem habilidades manuais incríveis, de quem sabe desenhar, de quem tem idade suficiente pra tentar.

Algumas invejas já foram solucionadas, quer pela tecnologia, ou pelas circunstâncias da vida. Tinha inveja de quem tinha cabelos lisinhos, escorridos, daqueles que não seguram nem um grampo. Há algum tempo, a escova progressiva me trouxe essa alegria. Tinha inveja de quem falava muitos idiomas estrangeiros. Hoje em dia falo quatro. A inveja pode não ter nada de nobre, mas muitas vezes é aquela coceirinha que faz a gente se mexer e querer ser alguém um pouco melhor. Quando menos se espera, a inveja vira agente transformador e faz uma preguiçosa virar malhadora só pra ter a bunda daquela modelo; uma ignorante virar leitora voraz só pra saber mais do que aquela garota que se acha a mais inteligente.

E você, tem inveja de quê?