domingo, 19 de maio de 2013

A Urgência das Palavras



Preciso sair. Transbordar, vomitar, sair. Romper o silêncio e fazer barulho. Não dá mais pra ficar presa aqui, neste cérebro, entre pensamentos que se movem tão depressa.Tenho que pegar um ar e fazer vibrar estas cordas, mexer esta língua, movimentar esta boca. Não posso mais ficar guardada. Quero deixar de ser estática e aparecer pro mundo, sou palavra e tenho minhas vontades. Preciso ventilar, ecoar, doer os ouvidos de quem quer que seja, onde quer que eu esteja. Preciso que me escutem na sala escura do cinema, no cantinho do balé, entre as notas do violino, na solidão da sala vazia, na lotação do Theatro Municipal. Quero sair. Ouçam-me. Não me importa quem esteja interpretando lá na frente, meu palco é a boca de qualquer um. Dobrem-se aos meus desejos, rendam-se a mim, eu vou passar. E ai de quem tentar me impedir.  Responderei no mesmo instante com a ironia dos mais fortes, porque nada se compara ao incômodo que eu posso causar. Quero tirar a atenção, despertar o interesse, mostrar que faço sentido mesmo quando não fizer. Não sou uma qualquer. Posso destruir sua linha de raciocínio, te desligar do concreto e sobressair com um tom mais alto. Sou capaz de mexer com suas emoções, estragar seu choro, arruinar suas sensações, interromper seu riso, desrespeitar seu momento, não me importa. Tenho que sair daqui. E tenho urgência. Não posso esperar que as luzes se acendam, preciso brilhar na escuridão, estou com pressa. Tenho que escapar por entre os lábios dos outros pra me sentir viva, me destacar da multidão e embaralhar os pensamentos do vizinho. Minha existência é nula aqui dentro, só existo quando saio por aí a incomodar. É hora de escolher uma vítima e atacar. Esqueçam a concentração deste momento, pois aqui vou eu, ganhar a liberdade com uma simples frase dita a esmo, sem pensar.

-Ai, como é que ele consegue decorar tudo isso? 






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