sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Vida de Repórter

Um dia estava fazendo um flash ao vivo na programação da Globo sobre as eleições. No meio do texto, o tenebroso e gigantesco fone despencou da minha cabeça. Paralisei. Não sabia o que fazer nem mais o que falar. Aí ouvi uma voz no meu ouvido -era a diretora do canal- dizendo um singelo 'encerra agora'. Foi meu primeiro "branco" no ar. Não foi o último.

Um dia me mandaram cobrir o famoso e badalado camarote de uma cervejaria na Marquês de Sapucaí. Lá estava, num curralzinho dos famosos, a top Gisele Bundchen, linda, de jeans, chinelo e regata branca. Para ter acesso a ela, fiquei num empurra-empurra durante meia hora e quando chegou a minha vez de entrevistá-la, fiz a pergunta e imediatamente uma mulher se jogou na frente da câmera. "Ela não tem condições de dar mais nenhuma entrevista neste estado, você me entende." Era a produtora dela. A uber model tinha bebido demais.

Um dia fui tentar entrevistar o Gugu num camarote da Marquês de Sapucaí. Ele era símbolo da tv concorrente, mesmo assim minha chefia mandou falar com ele, já que um dos enredos da noite era sobre Silvio Santos. Gugu me cumprimentou abraçado a uma, digamos, modelo, e a apresentou como 'minha namorada'. Não sei se foi coincidência mas o sungun, aquela luz portátil, se recusou a trabalhar. Trocamos o equipamento duas vezes e nada. A entrevista, no escuro, nunca foi ao ar.

Um dia fui entrevistar o ucraniano Sergey Bubka, o maior nome do salto com vara na história do esporte, campeão olímpico e 35 vezes recordista mundial. Ele começou me apressando porque tinha que viajar. A pergunta era sobre a melhor brasileira neste esporte em todos os tempos, Fabiana Murer. Antes de começar a responder, ele me perguntou: "vc é especialista na nova técnica dela?" Não era. "Ah..." ele sorriu, respondeu com meia dúzia de palavras e saiu.

Um dia fui à casa de Beth Carvalho lembrar como ela é apaixonada pelo Botafogo, de tal maneira que compôs uma música entoada pela torcida do clube. Depois de deixar a equipe esperando na sala por quase duas horas, ela apareceu. A entrevista foi ótima. Até o operador de áudio pedir que ela ligasse o aparelho de som pra poder captar no microfone a gravação da música. Ela ficou nervosa porque não sabia manejar direito o equipamento e começou a gritar. O operador, coitado, que sofre de uma certa demência, começou a tremer feito vara verde e não conseguiu sequer plugar o microfone no buraco da câmera. Naquele dia aprendi que não se contraria a rainha do samba.

Um dia estava pronta pra entrevistar ao vivo o então treinador do Fluminense, Abel Braga, que tinha acabado de vencer um jogo do campeonato brasileiro nos últimos minutos da partida. Era para ele estar feliz da vida, mas, antes que eu completasse a primeira pergunta, deu pra ouvi-lo, aos berrros reclamando com o assessor de imprensa do clube, 'Alexandre, assim não dá, assim não'. É que eu era a última a entrar no ar, e Abel estava com pressa.

Um dia fui entrevistar o técnico de vôlei multicampeão Bernardinho depois de uma derrota no campeonato brasileiro. Ele estava nervoso porque tinha vazado na imprensa que ele chamaria de volta à seleção brasileira o levantador Ricardinho, com quem havia brigado há mais de um ano. Na hora de responder à pergunta, começou me dando bronca ao vivo: "karin, eu falei que não era pra perguntar sobre isso, você, hein!" Não foi a primeira nem a última vez que fui alvo de tanto stress acumulado. Da próxima, receito uma massagem com pedras quentes que é tiro e queda.

Um dia fui ao hotel onde estava o cantor Neil Young, perguntar sobre o show que ele faria na noite seguinte no Rock in Rio 3. Na véspera, o guitarrista de uma banda de rock havia subido ao palco nu, coberto apenas pelo instrumento. Inocentemente, perguntei a Neil Young: "vc não vai fazer como ontem à noite e ficar nu não, né?" E ele, rápido no gatilho, aproveitando minha pergunta de duplo sentido: "como vc sabe que eu estava nu ontem à noite?' Ruborizei.

Um dia estava entrevistando o maior medalhista olímpico de todos os tempos, o nadador americano Michael Phelps, dono de 19 medalhas olímpicas, não exatamente conhecido por sua beleza física, e perguntei na lata: "Vc é um bom partido?". Aí foi o cara que ruborizou.

( a continuar...)



Um comentário:

  1. Essa carreira que a gente escolheu é demais mesmo. Quantas histórias bacanas. Quantos momentos inesperados... Quero muito ler a continuação! E quero muito continuar te vendo brilhar na telinha! Beijos

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