Abro espaço no blog para um saboroso texto de Regina Duarte. Ei-lo:
Se a
tecnologia de virtualização do mundo criou uma interminável corrida em que não se
vislumbra sequer o break concedido aos maratonistas para um gole de energético,
reclamo hoje minha medalha olímpica. Explico. Constato que, nos últimos trinta
anos, venho saltando mais que a Isinbayeva na tentativa de aproximar-me ao
menos das fileiras intermediárias dos corredores. Mas ainda tenho de reconhecer
que levo mais tempo para compreender o modus
operandi destes gadgets modernos,
do que para utilizá-los nas suas finalidades. E o pior: quando consigo
manejá-los razoavelmente, estão para ser abandonados por outros mais
sofisticados.
A indústria
não respeita e nem se apieda da terceira idade. Simplesmente deixam de fabricar
produtos por considerá-los ultrapassados. Como assim?! Não se deveria impor,
nesses casos, a realização de um plebiscito? Tive de me desfazer sucessivamente
de uma infinidade de álbuns de elepês adquiridos com a economia de anos, e de
mais de uma centena de fitas de videocassete, quando no mercado não existiam
novos aparelhos, sumindo também os técnicos que consertassem os antigos. Num mundo
onde se critica tanto o desperdício, é um contrassenso.
Em contrapartida,
a evolução dos CDs não me pega desprevenida. Já ganhei um mp3 e pude me
desfazer, sem sequelas, daquelas caixinhas antipáticas. A decoração agradece. Agora,
não me permito mais criar vínculos. Quero ouvir o último do Nelson Freire? Compro
o CD, passo para o mp3 e jogo fora. Afinal, sempre fui excelente consumidora e
minha voracidade não será abatida pelo sentimentalismo.
Gostava de
ver, manusear, e até perceber o cheirinho de tinta nova das capas dos vinis
enquanto os ouvia? Paciência. Na ordem do dia, usa-se apenas o sentido devido. Se
é música, que se ouça, ora bolas! Tudo mais é romantismo sem sentido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário