domingo, 1 de janeiro de 2012

Zelig

Ela é a mais popular da turma. Amiga de todo mundo, quer sempre ser agradável, engraçada, fazer elogios, chega a exagerar. Ela é tão boazinha que nunca falou mal de ninguém. Mas quer tanto te agradar, que até critica quem você não gosta na sua presença– apesar de se dar super bem com ela. Ela é tão legal, mas tão legal, que confunde suas opiniões com as dos outros só pra não contrariar ninguém.

Quem não conhece uma pessoa assim?

Acabo de assistir Zelig, de Woody Allen, de 1983, filmado como se fosse um documentário sobre a vida do estranho Leonard Zelig, um homem que quer tanto ser querido, que desiste de sua personalidade e se transforma em quem esteja ao seu lado. Se ele está junto de homens obesos, fica gordo. Se conversa com médicos, vira um especialista em medicina. Se está ao lado de negros, índios ou orientais, muda a cor da pele e os traços físicos. Um “camaleão humano”, que necessita ser aceito, fazer parte de um grupo, para se sentir feliz. E que, por isso, não sabe direito quem é, e precisa da ajuda de uma analista e do amor de uma mulher para se descobrir.

Existem inúmeros Zeligs por aí, e provavelmente você já deu de cara com um. Aquele sujeito que é tão puxa-saco, que é incapaz de emitir uma opinião verdadeira sobre qualquer coisa: quando está num grupo que adorou uma ideia, sinaliza conforme a maioria; se muda de mesa e conversa com quem achou a ideia idiota, diz que também não gostou. Pessoas que querem ser simpáticas até com quem verdadeiramente odeiam, só para se sentirem amadas. Que concordam com tudo para não terem que mostrar quem realmente são – e, em alguns casos, elas nem tem plena consciência de quem realmente são.

O que fazer quando a convivência com alguém assim é inevitável? Existe um remédio? No caso de Zelig, sua analista precisou recorrer à hipnose para que ele voltasse à infância e descobrisse o que o fez se tornar tão volúvel. Pode ser uma boa saída, mas, convenhamos, hipnotizar alguém não é assim tão fácil. Para quem é obrigado a conviver com um chefe, um colega de trabalho ou até um marido assim, muitas vezes é necessário que nós mesmos façamos o papel da analista - mas só vai funcionar se o ‘paciente’ tiver consciência de que precisa ser ajudado. É preciso que ele saiba que não dá mesmo pra agradar a todos, e, sendo assim, não é preciso ser puxa-saco, bonzinho, nem levar desaforo pra casa, só para ser amado.

Aos 7 anos de idade, quando ainda sonhava ser atriz, protagonizei na minha escola minha primeira peça de teatro. Fazia justamente o papel do camaleão, que mudava de cor conforme os outros animais da floresta quisessem, para fazer a vontade de todos e, assim, ser querido. Só que, ao mudar de cor, sempre havia um animal que não gostava de sua nova pele, de modo que era impossível satisfazer a todos. A moral da história, tão presente nos livros infantis, é que ‘quem não agrada a si mesmo, não pode agradar a ninguém’. E até uma criança entende que este conselho cai bem na vida de todo mundo.

5 comentários:

  1. ja vi este filme, muito bom, nos faz pensar e reavaliar sempre... as vezes nem sempre a ficha cai logo e ainda tentamos "agradar", muitas vezes a quem nao merece...excelente post..Pedro

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  2. Infelizmente esse tipo é bem comum mesmo, principalmente em ambientes de trabalho. Tem gente que vive de acordo com a máxima de que "quem não puxa saco, puxa carroça". Lamentável...

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  3. Excelente post! Mensagem inteligente pra começar bem 2012. Que bom que achei esse blog, mesmo que por acaso. Parabéns!

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  4. Me lembro como se fosse hoje : segura meu bem segura, segura o camaleao... O tempo passa muito rapido. Bjs pra minha artista favorita.

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  5. Nem sempre a pessoa que tenta agradar a todos é a mais falsa, e sim a mais solitária. É como fazer, buscando sempre receber em troca. Porém, não é por interesse..., é por necessidade.

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