quarta-feira, 15 de junho de 2011

Procura-se

Está em falta. É cada vez mais raro. Difícil de encontrar. Procura-se pelo silêncio. Não falo do silêncio 100%, imagina, moro em cidade grande e não teria essa pretensão. O barulhinho distante, o ruído dos carros passando, o burburinho, não me incomodam. Falo de outro tipo de silêncio, que não encontro mais.

É o casal de idosos no cinema que comenta cada cena, como se estivesse no sofá de sala vendo novela.

É o taxista que insiste em puxar papo, enquanto você só quer admirar a paisagem.

É o restaurante chique, de preço caro, que se tivesse os decibéis medidos, teria praticamente que instalar portas anti-ruído pra não incomodar a vizinhança.

É o celular que toca, o rádio que apita, no meio do concerto, da peça, do filme.

É o cara sentado do seu lado no avião, que conversa sem parar enquanto você só quer dormir.

É o sujeito que, no meio de uma reunião, não consegue ficar calado, tem que fazer uma pergunta, um comentário, ainda que não seja relevante.

É a mulher que passa todo o show do Paul McCartney tagarelando com uma amiga, em vez de sentir a emoção daquele momento, em vez de curtir um silêncio diferente, um silêncio de vozes em coro, em sintonia com a música que vem do palco.

É como se algo obrigasse as pessoas a começarem a falar. Você não tem direito de estar em silêncio, que logo te recriminam: anti-social, metida, antipática, reservada demais, misteriosa.

Eu adoro falar, contar histórias, dividir sensações com quem me interessa. Mas, muitas vezes, preciso do bom e raro silêncio.

Um minuto de silêncio para pensar, para observar, para admirar, para sentir.

Um minuto de silêncio para ler, para escrever, para cantar, para trabalhar.

Um minuto de silêncio para tomar uma decisão, para dizer o que realmente vale a pena ser dito.

5 comentários:

  1. Oi Karin,concordo com vc,tem horas que queremos sossego,paz,isolamento e nem sempre é possível,mas não fique em silêncio pq eu gosto de ouvír sua voz,seja apresentando ou expondo sua idéias em alguma entrevista.Bjs

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  2. muito interessante esta abordagem. E pensando melhor , eu também procuro este silêncio. Será que não teríamos um silêncio mundial se as pessoas falassem somente o necessário? se o celular tocasse somente o necessário? e se as pessoas se respeitassem mais. Talvez Karin, o silêncio que está faltando é o respeito entre as pessoas que há muito desapareceu.
    respeito!!!! Joel

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  3. Realmente nós – seres humanos (brasileiros ou não) nem sempre agimos de forma empática quando o assunto é: Exercício da Cidadania. Muitas vezes temos de suportar situações iguais/similares a estas que você narrou e que aviltam nosso espaço, nosso lazer, nossa concentração, nosso direito ao sossego, bem-estar e serenidade.
    Porque às vezes necessitamos de momentos de silêncio, de paz, de quietude e reflexão. Eles nos transportam a sensações importantes, ensinam a ouvirmos os sons interiores de nossa alma, despertam a consciência para o nosso aprimoramento, nos ajudam a reparar nas coisas mais simples e a valorizar o que é belo: são sentimentos que acalmam, harmonizam e edificam.
    Porém, não esqueçamos que – em algumas oportunidades criadas pelo destino, pessoas solitárias, carentes, inseguras ou que estão enfrentando dificuldades (que talvez nem conheçamos ou que não nos interessa) necessitam - naquele momento atípico, de um pouco de nossa atenção, de ser ouvidas acerca de suas incertezas (o tal sujeito da reunião), suas histórias (o taxista), suas impressões (o cara do avião), suas chagas (alguém que apenas precisa desabafar). E quanto isto ocorre, cabe a nós o exercício da humildade, da tolerância, do ouvir. Afinal, a pureza do silêncio também passa por estes estados de espírito.

    Beto Aprendiz...
    ORKUT (hamaktub@yahoo.com.br)
    FACEBOOK (HUMBERTO ALMEIDA)

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  4. Eu deixei de ouvir música exatamente por causa do que você, mui apropriadamente disse.
    O barulho é ensurdecedor, não só nos lugares em que menciona, mas até em casa, pois não há
    como escapar dele, seja por roncos de motocicletas seja por gritaria de pessoas que
    não sabem se expressar de outro modo.
    Hoje em dia, talvez por minha idade já provecta,não aguento mais pessoas ruidosas.

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